15.12.11

Pintomeira | Síntese de um percurso, na primeira pessoa



1957-Deocriste, terminada a instrução primária
Sou nascido e crescido na pequena aldeia de Deocriste, do concelho de Viana do Castelo. Aldeia construída em anfiteatro, espreitando o vale das suas veigas e olhando um pouco mais longe, o rio Lima até à sua foz, em Viana. As minhas origens provêm, por um lado, de proprietários rurais relativamente abastados, e por outro, de uma fidalguia, já então, em franca decadência.
Na escola primária, interrogava-me por que razão a minha professora, de nome Belizanda, me pedia, sempre a mim, para desenhar no quadro preto a igreja da minha aldeia. Tenho, também, na memória o tempo que ocupava a tentar desenhar, com os chamados lápis de pau, os retratos das minhas irmãs, e o fascínio e excitação que senti quando recebi a primeira caixa com lápis de cor, imaginando os desenhos que  poderia fazer com tudo aquilo. Teria, então, nove, dez anos. Os meus pais, uma vez feita a instrução primária, já tinham, pressentia eu, pensado o meu destino. Seria o Seminário.  Sendo eles profundamente religiosos praticantes do catolicismo, e como existia e existe, ainda, uma capela na minha casa, penso que gostariam de ver, no futuro, o filho padre a celebrar missa,  intra-muros.
Assim aconteceu. Em Outubro de 1957, ainda criança, entro no Seminário de Braga. Pela primeira vez, à noite, encontro-me a dormir num lugar estranho e, também pela primeira vez, encontro-me sem a protecção dos meus pais. Não conseguindo conter as lágrimas que escorriam saudades,  encobri a minha face com o lençol, não querendo expor, perante as outras crianças, aquele momento de fragilidade. Aquela inquietante estranheza inicial transformou-se, com o passar do tempo, numa convivência salutar e amical entre os restantes colegas. Conduzidos por regras austeras, muito próprias de um regime de internato numa Instituição Católica, a oração e o estudo preenchiam a maior parte do nosso tempo, o que acabaria por inculcar em mim e para a minha vida o método e a disciplina mental. Mas, uma vez que a vocação não estava comigo, a estadia no Seminário não foi longa. A rebeldia, o inconformismo e a ânsia de plena liberdade que, pela minha vida fora me irão caracterizar, fizeram com que, no primeiro período do quinto ano, em Dezembro de 1961, eu tomasse a minha primeira grande decisão: abandonar o Seminário. Apesar dos conselhos insistentes do Reitor para que continuasse, dizendo-me que a vocação iria voltar ainda mais forte, a minha decisão estava tomada e era irreversível. Juntei os poucos haveres na minha pequena mala, atravessei a enorme porta do Seminário Maior e, de repente, encontrava-me a descer, sozinho, a rua de Santa Margarida. Apanhei a camioneta de carreira
1958 - Braga, a turma do Seminário
de regresso a casa, em Deocriste. Durante a viagem, senti algo tão agradável e tão excitante, a que hoje chamo liberdade, que não consegui, sequer, imaginar o enorme desgosto que iria dar aos meus pais e o consequente castigo que me iria ser imposto. E assim aconteceu: o desgosto e o castigo. No entanto, passadas algumas semanas, uma carta, enviada pelo Reitor do Seminário, transformou-se num bálsamo para o desgosto e na revogação do meu castigo. A carta informava o meu pai que eu, não tendo vocação para o sacerdócio, era inteligente e deveria continuar os estudos. Passados dois meses, tudo se recompôs: iria prosseguir os estudos no colégio do Minho e, depois, no liceu de Santa Maria Maior, em Viana. As normas e as regras, incutidas e trazidas do Seminário, permitiram uma passagem pelo colégio, calma e sem agitações. No liceu, tudo mudou.
As animadas tertúlias nocturnas sobre cinema, teatro, literatura e pintura com o António Sales, o Adelino Ramos, o Galeão, e  a irreverência, a contestação e a rebeldia, tão próprias de alguns jovens dos anos sessenta, trouxeram-me alguns dissabores: suspensões, castigos e uma reprovação.
1965 - Viana, a turma do Liceu
Acabado o curso liceal, uma vez mais, o meu destino já tinha sido pensado pelo meu pai. A faculdade iria prender-me durante os próximos anos, a caminho de uma formação em arquitectura. No entanto, durante o liceu, já outras paixões tinham germinado dentro de mim: o cinema, como realizador, e a pintura. Como nenhum estudo, nestas áreas, me era permitido pela família, a desobediência à vontade paternal voltou a acontecer. A arquitectura ficou, definitivamente, para trás. Quanto ao cinema, houve, então, uma corajosa e apaixonante tentativa para realizar uma curta metragem. Tendo já escrito o guião, em colaboração com o meu amigo Rui Peixoto, decidimos alugar uma câmara de filmar, no Porto. O nosso entusiasmo era enorme mas, o preço do aluguer  também. Não havendo dinheiro, o projecto acabou. No entanto, só alguns anos mais tarde, já em Amesterdão, a realização de um pequeno filme de fim de curso marcaria o abandono definitivo do cinema.
O ano de 1966 estava a chegar ao fim. De uma maneira ainda insegura, alguns dos meus trabalhos iriam ser mostrados ao público pela primeira vez. Em Viana, na pequena galeria da, então existente, Livraria Divulgação, é inaugurada a minha primeira exposição. Ela abarcava um conjunto de desenhos, guaches e tintas da china. Constatando a elevada presença de visitantes  e o interesse que a mostra neles despertou, esta pequena e tímida experiência transformou-se no meu grande desígnio: uma forte determinação para seguir uma carreira no mundo das artes.
Deixei a minha casa de família, a minha aldeia construída em anfiteatro, a cidade da minha adolescência, e parti para Lisboa. A longa viagem de comboio ofereceu-me, de novo, uma inebriante sensação de liberdade, e a minha bagagem era um enorme baú cheio de sonhos. A chegada à estação de Santa Apolónia e o trajecto percorrido de eléctrico até à zona da Estefânia, transformaram-se numa experiência de enorme fascinação, de puro deslumbramento. Era já de noite. Todos aqueles neons ofereciam uma paisagem urbana cheia de encantamento. Eu, o rapaz saído daquela pequena aldeia e de uma pequena cidade do norte do país, chegava, agora, ao grande mundo e sentia que o cinema e a pintura moravam, ali, naquele lugar iluminado. Entretanto, feito um pequeno exame escrito, na Direcção de Finanças, consegui um emprego como inspector tributário estagiário, acompanhando o
1967 - Lisboa, o tempo do "On the Road"
inspector-chefe António Feio, na verificação das contas das empresas sediadas na Costa do Sol, entre Oeiras e Cascais. Passados seis meses e, não querendo acatar uma ordem vinda da Direcção para cortar o cabelo e adoptar uma imagem mais condizente, segundo eles, com a minha função, decidi pedir a demissão. Tal decisão, naquele tempo, era o reflexo de uma tomada de posição anti establishement, anti statu quo e de não adaptação às regras. Era a procura de uma liberdade pessoal, que alguns jovens da minha geração lutavam para conquistar. Sabendo que éramos diferentes, queríamos fazer diferente.
Era uma geração anti conformista, da contracultura, fortemente influenciada pelos escritos da beat generation americana, mais concretamente pelo livro "On the Road" de Jack Kerouac. Mais ou menos na mesma época, Bob Dylan escrevia e cantava no The Times They Are a-Changin': "... ouçam mães e pais, através de todo o país, não critiquem aquilo que não conseguem compreender; os vossos filhos e as vossas filhas já não entendem as vossas ordens e a vossa velha estrada está a cair rapidamente em desuso; por favor não perturbem o novo caminho se não o conseguem caminhar; os tempos estão a mudar."  E tudo mudava, rapidamente.

O pedido de demissão acima referido foi também motivado pelo desígnio fundamental que  transportava comigo: a pintura e o cinema que continuavam bem vivos  dentro do meu baú de viagem. 
Naquele tempo, dizia-se em Lisboa que, estudar cinema teria que ser em Londres, na London Film School ou em Paris, no IDHEC (Institut des Hautes Études Cinématographiques). Estando vedada a obtenção de um passaporte e a consequente proibição de sair do país por não haver, ainda, cumprido o serviço militar obrigatório, e após uma tentativa fracassada de saída clandestina, o cinema ficava, assim, adiado. A pintura ficaria em Lisboa. E eu também. As tertúlias no café Brasileira, e os cuidados para não falar de política, o convívio com alguns pintores do movimento surrealista português, Mário Cesariny, Raúl Perez, Cruzeiro Seixas,
1967 - Coimbra, dia anterior à detenção pela PIDE
Fernanda Assis e outros, as exposições inconformistas nos passeios do Rossio, onde vendi o meu primeiro desenho, o atelier colectivo na Mouraria, as conversas literárias e libertinas com Luís Pacheco, nas tabernas da baixa de Lisboa, são, agora, lembranças que trazem alguma nostalgia.

Na primeira semana de Maio de 1967, querendo vivenciar  o nosso "Pela Estrada Fora" (On the Road), eu e  mais três amigos saímos de Lisboa, de mochila às costas e à boleia, decididos a percorrer,  sem qualquer plano preconcebido, o maior número de quilómetros pelas estradas do país. Era a procura da liberdade, da natureza, do improviso, da aventura no asfalto, apoiadas na prática da amizade e da solidariedade. Na minha bagagem encontravam-se alguns livros, material de desenho e um gira discos portátil. Na roupa tinha inscrições de apelo à paz  (Paix au Vietnam e Make Love Not War), uma causa que sensibilizava muitos jovens naquele tempo de guerras: Vietnam e a nossa guerra colonial. Foram estas pacíficas palavras inscritas nas costas do meu blusão de ganga, que  suscitaram suspeitas  de teor político. Após algum tempo de vibrantes aventuras, chegava, agora, um período de escuridão causado por uma  curta, mas sinistra, detenção pela PIDE de Coimbra, juntamente com os meus amigos, por suspeita de actividades contra a segurança do estado. Houve interrogatórios assustadores feitos por um tenebroso inspector. Houve ameaças de tortura, humilhações, mas nada
1967 - Coimbra, registo fotográfico da PIDE
acabaria por ser provado. No auto de libertação, pode ler-se: “Em face dos autos, verifica-se a falta de fundamento da suspeita de actividades subversivas inicialmente alimentada contra os detidos, que, apenas, se alicerçava no seu procedimento um tanto estranho e nas pregadeiras com inscrições de apelo à paz, bem como nos desenhos feitos num bloco de apontamentos, representando um deles, da autoria de A.Pinto  Meira, dois nus, um agrilhoado, com os dizeres “nous ne sommes pas libres”.
Na verdade, pode considerar-se aceitável a explicação apresentada pelos acusados nos interrogatórios a que foram submetidos, na medida em que o seu comportamento traduzirá um estado de espírito, uma mentalidade, uma forma de sentir não muito raras em outros jovens que pretendem fazer-se notados pelas suas extravagâncias. Nestas circunstâncias, restituam-se à liberdade e arquivem-se os autos (29 de Maio de 1967, arquivo da Torre do Tombo). Todos os desenhos que eu havia feito durante a viagem e os livros que trazia comigo (Albert Camus, Arthur Rimbaud, Jack Kerouac, Jean-Paul Sartre) não me foram  restituídos, sendo confiscados ou, provavelmente, destruídos pela PIDE.
Eu e os meus companheiros do asfalto e, agora, também da prisão, estávamos de regresso à estrada.   Mas, esse asfalto que simbolizava liberdade e aventura, foi sol de pouca dura. Passados alguns meses, a entrada obrigatória, em Mafra, para o curso de oficiais milicianos e, findo este, a subsequente partida, como alferes, para a guerra colonial em fins de 1968, adiavam, agora, com muitas incertezas, a pintura e o cinema. A Guiné, e o seu interior mais
1969 - Piche, local no interior da Guiné
remoto, foi o meu destino pavoroso e dantesco, o meu pequeno Vietnam.
Em Março de 1970, após dezoito meses de serviço militar cumprido em África, eu, são e salvo, estava de regresso a Lisboa com quem selei uma paixão até ao fim dos meus dias. Revisitei essa minha cidade e reencontrei alguns amigos. A outros perdi-lhes o rasto. O tempo passado entre Mafra e a selva africana, marcou um período perdido, um espaço de poucas memórias, talvez inútil, por nunca ter sido minha escolha. Ficou como um interregno imposto, involuntário, do meu caminho no mundo artístico. Após algum tempo de adaptação, pude concluir que essa indesejada participação na guerra colonial, não tinha provocado, em mim, qualquer transtorno. Estava pronto para reiniciar um percurso que, de certa maneira, esteve suspenso. Marquei o reencontro com a pintura. A ligação a alguns artistas do movimento surrealista português deixou influências e marcou o meu caminho na década de setenta. Embora sabendo que o surrealismo já não se encontrava inserido no contexto  das vanguardas, não quis deixar de explorar o mundo do inconsciente e do sonho, e sentir um trabalho que não obedecia às manifestações da razão, da lógica e mesmo da moral. Fiz algumas exposições, vendi alguns trabalhos, e senti que, desta vez, os meus sonhos se tinham tornado maiores do que a própria vida. Decidi deixar Lisboa e Portugal.
No verão de 1971, Marijke, a linda holandesa de olhos muito azuis apareceu, assim inesperadamente, olhando alguns desenhos que eu expunha, junto a uma praia chamada Cabedelo. Ela decidiu ficar comigo, ali mesmo, e assim sem mais nem menos. Passados alguns dias, ela sentiu aquela minha enorme vontade de percorrer uma estrada muito mais longa. E a minha vida, ao lado dela, iria tomar um rumo, para sempre irreversível. Partimos para Paris, onde ela
1976 - Amesterdão, com a Marijke
iria terminar os estudos na Sorbornne. Em fins de 1972, após uma curta estada em Paris, chegamos, finalmente, a Amesterdão. Era ali que eu iria permanecer, por muitos anos. Era a minha cidade, onde, naquele tempo, tudo parecia ser permitido. Eu e a Marijke casamos. Todo o meu trabalho surrealista foi produzido no atelier, anexo à casa que ambos habitávamos. Ela seguiu e estimulou a realização dessa obra, sendo modelo, em alguns desses trabalhos.
Entretanto, o curso de realização de cinema na Nederlandse Filmeacademie era, agora, uma possibilidade. Mas, não aconteceu. A pintura estava ali, no imediato, mais próxima e esperando o reencontro. Decidi frequentar o CREA | Cultureel Studentencentrum van de Universiteit van Amsterdam e estudar pintura. Paralelamente, também, no CREA, um pequeno curso e um curto filme realizado por todos os alunos, serviu para a despedida definitiva do cinema, podendo, assim, dedicar todo o tempo à pintura. O meu atelier, situado nas proximidades da Museumplein, onde se encontram o Rijksmuseum, o Stedelijk e o Van Gogh museum, iria ser o lugar dos encontros e dos diálogos solitários entre mim e a tela. Numa das Cartas Condenadas publicada na revista literária Vertical (Círculo de Cultura Portuguesa), em Amesterdão, eu escrevia: "Eis-me, sublime, de torneira profundamente aberta jorrando beleza curvilínea e revolta em espiral para o espaço da criação, em pinceladas de exaltação oval. ... assim, suprimo a névoa e ilumino o espaço entre mim e o cândido linho, para sentir o labor do pincel, o aroma do pigmento, no êxtase da forma e da cor".
1978 - Paris, no Grand Palais des Beaux Arts
Após algumas exposições na Holanda, realizei, em 1978, a minha primeira exposição em Paris, na Galerie Entremonde, ainda com a assinatura de Pintorosha. No mesmo ano, ainda com a mesma assinatura, participei no "Salon 1978", realizado no Grand Palais des Champs-Elysées, em Paris. Após este Salon,  também chamado "Metamorphoses," e levado a cabo pela Société des Artistes Français, homenageando o belga René Magritte, decidi que o meu período dedicado ao Surrealismo, tinha acabado a sua viagem. Depois, houve um passeio pela Paisagem, uma inovação com  os Contornos e as influências do grupo CoBrA na série Nova Linha. Houve, durante esse período, muitos trabalhos de desenho, serigrafia monotype e a feitura de posters de cinema. Houve uma pequena incursão literária na área da escrita, que resultou na publicação de High noon in the hot summer e de Cartas Condenadas. Houve, também, a companhia e as influencias de artistas e escritores como Corneille, Herman Brood, Max Schreuder-Pilawski, Adriaan Walwijk, Maria Esmeralda Mendes,
1989 - Amesterdão, com a Ruth
Mário Miranda e Rentes de Carvalho, entre outros. Foram, também, realizadas várias exposições.
Durante todo esse tempo, a minha vida pessoal teve períodos de encontros e desencontros. Eu e a Marijke tínhamos optado pelo divórcio. A Claudia, vinda da Austria, tinha sido a minha adorável companheira de aventuras e viagens e a Ria, a bela holandesa, de quem eu tantas vezes desenhei o retrato, tinha sido uma grande paixão. Em 1984, eu e a Ruth, a poetisa e   encantadora "amsterdammer," encontrámo-nos. Foi numa sala com muita gente e com muitos quadros nas paredes. Alguns eram meus. Era a vernissage de uma exposição colectiva. Saímos, jantámos juntos e, nos próximos quinze anos, nunca mais nos separamos. Ela foi a
1995 - Amesterdão, no meu atelier
minha companheira inspiradora, a minha “Gala” que me acompanhou e assistiu na construção e produção de muitos trabalhos e na realização de muitas exposições.
Passaram quase trinta anos desde a minha chegada à Holanda. Esse percurso vivido na minha irreverente Amesterdão, estava a chegar ao seu termo. Tudo teria sido muito diferente se, em 1972, eu não tivesse decidido deixar Portugal e acompanhado a Marijke, a linda holandesa de olhos muito azuis, a caminho de Amesterdão. A minha evolução artística e cultural foi mais cheia, mais inteira. Tendo a minha integração na sociedade e na cultura holandesa sido muito rápida por via do meu casamento com a Marijke, a minha participação e os contactos com a cena artística de Amesterdão foi, também por isso, mais facilitada. A aprendizagem e as influências
vindas desses contactos estão bem patentes em muitos dos meus trabalhos.
2004 - Deocriste, no meu atelier
Em fins de 1999, aconteceu o regresso a Portugal, àquela linda aldeia da minha infância, construída em anfiteatro. De novo, cheguei a casa dos meus pais a quem eu tantas vezes desobedeci, para seguir o caminho que a minha vida tinha pensado para mim. Em 2000,  tendo eu herdado a casa de família em Deocriste, decidi construir, no piso térreo, um atelier onde iria dar continuidade ao meu trabalho criativo. O tema Nova Linha, ainda trazido de Amesterdão, adaptou-se a outro clima e permaneceu durante alguns anos. Seguiu-se o tema Faces que, ainda hoje, vai fazendo parte do meu trabalho. Para além dos acrílicos e técnica mista sobre tela, foi produzida, paralelamente, uma vasta quantidade de trabalhos sobre
2010 - Braga, com a Tuxa
papel e sobre cerâmica.
Chegou 2007. A minha vida iria, uma vez mais, tomar um novo rumo. Iria ser mais inteira. Eu e a doce Tuxa casamos. Aconteceu na pequena capela da minha casa, onde os meus queridos pais, num passado, já longínquo, sonharam ver o filho celebrar missa. Nesse dia, a missa de casamento foi celebrada pelo seu neto, meu sobrinho, Padre José Domingos Meira, e eles foram lembrados. Entretanto, o meu atelier em Deocriste transformou-se na minha galeria de arte e o terreiro da minha casa, é, em ritmo bienal, o palco de um Sarau Cultural.
A cidade de Braga iria ser, ao lado da Tuxa, o lugar do início de um novo ciclo, no meu percurso artístico. Um oitavo andar, cheio de luz, foi remodelado e passou a ser o meu novo atelier de pintura e o meu estúdio de
2012 - Braga, no meu atelier
fotografia. Aí, foram produzidos os Interiores, os Exteriores, as Outras Faces,  a Arte Digital, os Cutouts, as Novas Faces e os trabalhos de Fotografia, onde estão incluídos os Somewhere,  os Artistic Composites e as Cores Complementares. Entre uma e outra série, a fotografia regressou, após ter sido abandonada nos primeiros anos de Amesterdão. Ao longo desse percurso, foram realizadas diversas mostras dos trabalhos que fazem parte das séries atrás referidas.
2016 - "Cutouts" no Museu de Monção | Universidade do Minho
Estamos em 2016. Passaram 50 anos desde a realização da minha primeira exposição na cidade de Viana, em 1966. Na sua inauguração, algumas dezenas de guaches e desenhos, alinhados naquelas quatro paredes, e as pessoas que os olhavam, encorajaram-me a pensar que, aquela pequena exposição, era o início, firme e inabalável, de um caminho no mundo da Pintura. É aí que ainda me encontro: na Pintura e na Fotografia. Nesse caminho, foram realizadas, em diversos estados europeus,  mais de uma centena de exposições individuais, várias colectivas, bienais e feiras de arte. Centenas de trabalhos fazem parte de colecções privadas, colecções públicas e institucionais espalhadas por diversos países. No entanto, o baú da minha primeira viagem para Lisboa transporta, ainda, muitos sonhos. Eles são o futuro que eu terei que cumprir.
Este meu percurso nunca foi uma monótona linha recta. Nessa estrada, passei muitos  cruzamentos e entroncamentos e a direcção que então foi escolhida, conduziu-me até aqui. Foi assim que eu sempre quis que fosse.