5.1.12

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pintomeira  é um artista plástico - pintura, fotografia, ilustração | ensaísta


Índice

 

1 Biografia

3 Referências

4 Catálogos | Livros

2 Obra | Temas 1966 - 2020

5 Ligações externas

 

Biografia

 

Nasce em Deucriste1 ,  Viana do Castelo-Portugal, em 1946.

Em 1957, entra no Seminário de Braga, que abandona em 1961, após considerar que não tinha vocação para o sacerdócio.

 

Em 1965, termina os seus estudos liceais, decide desistir da Escola Superior de Belas Artes da Universidade do Porto, hoje Faculdade de Belas Artes (FBAUP) e da sua formação em Arquitectura, e opta por uma carreira nas Artes Plásticas (Pintura), embora o Cinema tenha sido, desde cedo, a sua primeira orientação.

 

Entre 1967 e 1972, encontra-se em Lisboa. Perseguindo um lugar no mundo das artes, rapidamente frequenta um atelier colectivo na Mouraria, onde conhece vários artistas, entre os quais o prestigiado surrealista Raul Perez e  com quem participa em algumas exposições anti establishment, nos passeios do Rossio.  Durante esse período passado em Lisboa, faz algumas mostras individuais e convive com, os já mais velhos Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, Luis Pacheco e outros ligados ao movimento surrealista português. Estes contactos e convivências levaram Pintomeira a abandonar a intenção de uma formação em Cinema, e a optar pela Pintura, adoptando a corrente surrealista.

 

No final de 1972 e após uma curta passagem por África, parte para Paris na companhia da pintora e modelo holandesa Marijke de Hartog que conhece em Portugal. Os dois decidem, mais tarde, partir para Amesterdão, capital da Holanda onde passam a viver e onde casam em 1976. Até 1999, a cidade de Amesterdão será a sua residência, tendo aí o seu atelier onde produz grande parte da sua obra. Participa, ao longo desses 27 anos, em diversas exposições individuais, colectivas, feiras e bienais.

 

Em 1977, em Amesterdão, Pintomeira tenta ainda os estudos em Cinema mas falha  a inscrição na Nederlandse Filmacademie2 ( Academia de Cinema da Holanda). Em consequência disso, decide frequentar, em 1978-1980, o CREA Cultureel Studentencentrum van de Universiteit van Amsterdam3, onde estuda Pintura e tem, mesmo assim, uma curta formação em Cinema e Fotografia.

 

Em 1978, após algumas exposições na Holanda, faz a sua primeira mostra em Paris, na Galerie Entremonde. No mesmo ano, também em Paris, participa no Salon 78, chamado “Metamorphoses” em homenagem ao pintor surrealista belga René Magritte, realizado no Grand Palais des Beaux Arts. Após esta participação, decide terminar o seu período surrealista. Sobre este seu percurso no SURREALISMO (1967-1978), Luis Chaves, historiador e crítico de arte, escreve no catálogo de uma retrospectiva realizada em 2005 no Museu Municipal de Viana do Castelo, (excerto): "Recuamos até à década de 70 do século XX para entrarmos em contacto com a sua passagem pelo surrealismo. Descobrimos a sua convivência com Cesariny, Cruzeiro Seixas e outros ligados a esse movimento, aquando da sua estada em Lisboa (1967-1972). No entanto, será já em Paris e mais tarde em Amesterdão, que todas as convenções e preconceitos se soltam para dar lugar a uma expressão liberta de toda a preocupação racional e moral resultante da ideia introduzida por André Breton: o automatismo psíquico: estado puro, mediante o qual se propunha transmitir verbalmente, por escrito, ou por qualquer outro meio o funcionamento do pensamento, liberto de qualquer controle exercido pela razão e indiferente a qualquer preocupação estética ou moral". 

 

    
Lendas e Mitos 1976 | Colecção Privada 

 

Durante a década de 1980, no seu atelier em Amesterdão, Pintomeira recebe várias influências, sendo a mais marcante a do grupo CoBrA4(agregação das letras iniciais das cidades de Copenhaga, Bruxelas e Amesterdão) e do qual fazem parte grandes nomes como Karel Appel, Corneille, Asger Jorn e Lucebert. Algumas influências desse movimento, como as texturas espessas, o desenho automático, as cores vivas e primárias do expressionismo em combinações complementares, e ainda os motivos simples e depurados com algumas ligações ao surrealismo e à arte primitiva, acompanharam o artista durante grande parte da sua obra. 

 

      
Sem Título | Colecção Privada   

 

Apesar do gênero PAISAGEM nunca ter despertado a sua atenção, nos finais da década de 80, Pintomeira decidiu trazê-lo para o seu atelier. Produziu, então, cerca de 30 trabalhos sobre tela nessa expressão pictórica e que hoje se encontram em diversas colecções públicas e privadas e institucionais. O artista usou como ponto de partida algumas fotografias das planícies alentejanas, obtidas por ele, numa das suas viagens a Portugal. Penso que, após uma observação demorada das suas fotografias, ele definiu uma linguagem de expressão artística que melhor se ajustava a uma representação original e inovadora. Pintomeira optou por fazer uma análise estrutural da natureza das paisagens alentejanas e concluiu que o seu trabalho seria mais uma criação originada na racionalidade do que num qualquer estado de alma. Não era sua ideia imitar a natureza nem ser sensibilizado pelo seu belo intrínseco nem pelo seu bucolismo campestre, excluindo qualquer aproximação ao arcadismo.

 

  
Alentejo 1986 | Colecção Akzo Nobel N. V.  | Amesterdão


A construção racional da expressão estética escolhida pelo autor iria basear-se, ab initio, no imenso espaço-ar que a imagem da planície lhe oferecia. Embora, não respeitando nenhuma regra académica da perspectiva, a representação desse imenso espaço-ar, dessa enorme porção de atmosfera, seria trazida pela forte ilusão de profundidade expressa através de uma construção formal assente em traços, linhas, rectângulos e outras formas geométricas e numa construção cromática trazendo as cores quentes para a proximidade e remetendo os tons frios e indefinidos para o horizonte, produzindo a aparência de lonjura.

 

Na década de 1990 inicia o tema CONTORNOS5, um trabalho inovador de estilização e depuração da figura que consiste no constante exercício e experimentação à volta do contorno. O artista, movido pelo seu entusiasmo e por uma assumida determinação em inovar, dedicou-se à observação do uso e dinâmica do contorno. Perceptível em Sandro Botticceli, abandonado no impressionismo e assumido em Picasso, Pintomeira confere-lhe autonomia, libertando-o da mera e fina linha de fronteira servindo o desenho ou delimitando um espaço. Nesta sua obra figurativa essa linha torna-se dominante e imponente. O autor acredita que está num processo de inovação expresso numa nova configuração formal e estética através do adensamento, multiplicação e prolongamento das linhas contornantes, ultrapassando as fronteiras do seu propósito convencional.  Nos tempos das inúmeras vanguardas do século XX, este novo estilo poderia, sem exagero, ser denominado de Contornismo5.

 

  
Contornos 1995 | Colecção Privada


Donald Meyer, escritor e crítico de arte, escreve no livro “Contornos . Contours” editado pela Appelbloesem Pers de Amsterdam6, (excerto):  “...a escrita pincelada é profundamente pessoal e convida o espectador a percorrer todas essas linhas-estradas contornantes, dando-lhe a possibilidade de contemplar a figura ou objecto no conforto da periferia anfiteátrica. O rigor, quase matemático de todas essas linhas e contornos, acentua uma preocupação na busca de uma harmonia que suavize uma observação mais racional ou dramática da memória. No entanto, esse rigor na procura do equilíbrio não significa austeridade ou aprisionamento do lírico. ...Essa exuberância linear, esses traços espessos, que se cruzam e interligam, conduzem a novas áreas e oferecem movimento e ritmo a uma representação estática ou inspiram um ambiente de dinamismo e diversão a uma figura depurada.”


Em 1999, Pintomeira deixa Amesterdão e regressa a Portugal. O trabalho que realiza no seu novo atelier no norte do país, dá origem a um vasto conjunto de obras figurativas, ainda com influências do grupo CoBrA e que denomina de NOVA LINHA. Pintomeira viveu durante muitos anos em Amesterdão, capital da Holanda e centro do movimento artístico CoBrA, fundado em 1948 e que reunia artistas de Copenhaga, Bruxelas e Amesterdão, tendo o seu acrónimo nascido da aglutinação das iniciais dessas cidades. Tendo convivido com Corneille que, a par de Karel Appel, foi um dos artistas mais influentes desse movimento, o seu novo tema Nova Linha apresenta abordagens estéticas e formais muito próximas de alguns trabalhos desse grupo que revelou uma linguagem de experimentação onde imperava a liberdade, o simples e o espontâneo, mostrando manifestações da arte infantil e primitiva e algumas influências do surrealismo e expressionismo. No tema Nova Linha, Pintomeira, rompendo com a concepção estética dos Contornos, iniciou uma nova obra figurativa, agora mais depurada e fortemente estilizada. Para além da figura humana, o artista recorre muitas vezes à representação de aves, peixes e outros animais, assim como às formas circulares e ovais interpretando sóis ou luas, e outras quadradas, rectangulares ou simplesmente linhas utilizadas para a construção de um equilíbrio formal.

 

    
Nova Linha 2007

Aqui, a concepção e elaboração da obra é instintiva, directa e muito pouco pensada, não tendo o peso da ponderação racional ou a meticulosidade e a minúcia usada nos Contornos. Mesmo assim, a obra não deixa de ser demoradamente trabalhada, adquirindo texturas espessas, sobreposição de tons, raspagem e areamento. Sobre Nova Linha, obra criada entre 1999 e 2007, Alberto Abreu7 historiador e curador de algumas exposições de Pintomeira, escreveu, (excerto): “A desmaterialização dos objectos foi o caminho seguido por Pintomeira numa Nova Linha onde o contorno acabou por se reduzir a um filete, as imagens dos objectos aparecem estilizadas quando não reduzidas a silhuetas sem cor nem respeito pelos outros objectos do quadro, neste composto de texturas que Ihe conferem ritmo, irrealidade, estatuto de “formas puras”. Neste ambiente Pintomeira colocou grelhas quadriculares, aves, silhuetas femininas, rostos de perfil, frutos; e varandas, e luas, e caras com olhos de espanto.”


Desde 2003 e alternando com outros temas, Pintomeira produz e continua a produzir um extenso conjunto de trabalhos sobre tela, papel e outros suportes, a que deu o nome de FACES. Estas obras parecem ter nascido de um trabalho simples e descomplicado, mas só aparentemente. Na prática, a sua construção é muito laboriosa, metódica e bastante pormenorizada, sendo dividida em duas fases distintas. A primeira é ocupada com a preparação  de um fundo de tendência abstracta habitado por  espaços geométricos, traços e tracejado, redes, grelhas e dripings, num cromatismo nivelado. Na segunda fase surge a figuração, a representação, manifestada num simples desenho de uma face feminina, às vezes andrógena e executada num contorno de pincelada enérgica, densa, poderosamente presente, ocupando quase todo o espaço da tela.

 

Faces  2011
                                                    

A expressão é contemplativa, de indulgência, de compaixão, levando a fazer emergir na nossa memória as madonas renascentistas.


O ano de 2007 marca uma viragem acentuada na sua obra figurativa. As influências CoBrA e os densos contornos desaparecem. O tema INTERIORES apresenta trabalhos próximos da pop art com influências do design gráfico. A figura está manifestamente presente e as cenas de interiores denunciam representações teatralizadas onde os personagens aparecem como figuras imóveis e mudas,  umas sentadas em sofás, cadeiras ou poltronas e outras de pé, estáticas e sem comunicação entre elas. A encenação passa-se quase sempre na sala de estar, preenchida com a mobília já citada e ainda com vasos, candeeiros e tapetes. E o que está a acontecer naquela sala? Parece nada acontecer, embora aparente que alguma coisa pode, eventualmente, acontecer.  Equilibrando a composição formal, outros espaços estão habitados por figuras geométricas, muito recorrentes nas obras do artista, traços e tracejados.

 

Interiores 2009 | Colecção Privada

No catálogo de uma exposição dos “Interiores”, Moisés de Lemos Martins, sociólogo / escritor e professor na Universidade do Minho8 escreveu, (excerto): “Em Interiores são raros, todavia, estes espaços que articulam o interior com o exterior. Nesta fase estética, marcada pela PopArt e pelo Design Gráfico, Pintomeira descreve, de um modo geral, lugares enclausurados em si mesmos, sem linhas de fuga nem horizonte. Este procedimento obedece aos princípios da Arte Minimalista. Ao privilegiar o espaço de exposição, o artista cria uma obra que se situa entre a pintura, a escultura e a arquitectura. Este espaço, simultaneamente contínuo e descontínuo, assenta na autonomia do mundo interior e não parece conceber qualquer exterior. Mas não é inconcebível que esta paisagem possa ser também percebida do exterior, embora o interior fique necessariamente escondido pela fachada.

 

Em 2009 e 2010 é produzido o tema OUTRAS FACES, conjunto de obras figurativas, realizadas em impressão digital coladas sobre tela, trabalhadas posteriormente em acrílico e que nos transportam para uma Neo Pop Art. Estas obras apresentam fotografias de faces retiradas da media de comunicação escrita ou internet. Estas faces passam para  tela através de um processo de impressão digital de grande dimensão, sendo posteriormente cortada e colada na tela principal. Segue uma intervenção com tintas acrílicas, em pinceladas densas, linhas, espaços geométricos e os já recorrentes tracejados. O grafic design, os outdoors publicitários, a pop art e a fotografia estão, manifestamente, presentes. De novo, Moisés de Lemos Martins8, escreve: "A Pop Art e o Design Gráfico inscrevem-se no movimento contemporâneo de dessacralização da imagem, o que também quer dizer de dessacralização da arte. Obras de arte sem aura, as imagens da Pop Art e do Design Gráfico têm o seu destino associado à cultura de massas, designadamente à publicidade, à fotografia e ao cinema, e uma condição marcadamente tecnológica, tanto por serem formas tecnicamente reproduzidas como por integrarem a dinâmica da cultura digital. Filiado nestas expressões das artes visuais, uma cultura que imbrica com as artes do espectáculo, o processo de produção artística de Pintomeira compreende a labiríntica travessia do reino das imagens dos media, que saltam para a tela do pintor, tanto da página do jornal ou da revista, como da pantalha do cinema ou do ecrã do computador. 

 

Outras Faces  2011 | Colecção Privada
 

E a utilização do Photoshop, um recurso da sua apurada técnica de manipulação das imagens, assim como a impressão digital da imagem sobre tela, apenas confirmam este movimento da arte, que tanto a aproxima das massas como a aproxima das máquinas.  ‘Outras Faces’ figura a homogeneidade absoluta de sujeito e objecto, de tempo e espaço, num processo de retorno encantatório do mesmo (retrato). Os mesmos retratos dão-nos a ver sujeitos passivos, desnudados, na maior solidão, sujeitos de mera superfície e artifício, sem qualquer interioridade, sujeitos que se libertam de toda a significação natural para ganhar a intensidade espectral do ícone, uma intensidade vazia de sentido. São assim, aliás, os sujeitos mediáticos, as estrelas de cinema e da Pop music, por exemplo, como Andy Warhol no-lo deu a ver nos retratos de Marilyn Monroe, Elisabeth Taylor, Marlon Brando e Elvis Presley. E são assim também os retratos de “Outras  Faces”, que nos mostram sujeitos frios e inexpressivos, rebaixados a uma condição profana, sujeitos que não passam de imagens sem aura, realizações mecânicas, decalcadas tanto dos produtos mass-mediáticos como dos artigos comerciais, uns e outros produzidos em série".

Em 2011 surge o tema EXTERIORES que vem complementar “Interiores” produzido entre 2008 e 2009.

Este tema é composto por uma série de obras que reúnem figuras do nosso quotidiano em encenações urbanas, atravessando passadeiras de rua onde a sinalética rodoviária é fortemente explorada. Sinais de stop, de velocidade, de sentido obrigatório, sentido proibido e outros são, aqui, utilizados pelo artista de uma maneira muito clara, axiomática e imaginativa e que colocam o espectador numa posição discordante e paradoxal. Toda esta acumulação de sinais e as quase sempre repetidas passadeiras zebra, perturbam o seu quotidiano e hábitos de ordenamento visual, uma vez que sugerem um espaço tridimensional numa contradição com uma enfatização do plano. Os momentos de exteriores urbanos  foram, na sua maioria, captados fotograficamente, sendo trazidos para a tela numa concepção estética e formal de composição livre, arbitrária, colocando as personagens nos seus afazeres do dia a dia ou em simples passeatas citadinas, confundindo-as com a sinalização rodoviária e o grafismo dos números e das palavras. Para preencher espaços e atingir equilíbrios, Pintomeira recorre aos seus já habituais traços, tracejados, círculos, linhas e quadrículas. 

 

Exteriores  2012 | Colecção Privada

José Luis Ferreira9, sociólogo, escritor, investigador de arte e Membro Académico Ind. IAA/AIE– International Association for Aesthetics, escreveu no catálogo da exposição “Exteriores . Interiores”, (excerto): “…a regularidade linear do risco, expandido ao traçado largo, recto ou curvilíneo… a acoplagem da sinalética, do pictograma, da carga simbólica e determinante cultural – do semáforo – na Aldeia Global, onde não se perde o sentido das [...] «coisas sólidas e voláteis»[...] coexistente, dentro e fora (no interior e no exterior), de tudo quanto é belo, na existência das coisas, naturais ou artificiais…Daí, o eu admitir que deva considerar-se, enquanto ponto de vista estrito e, unicamente metodológico taxonómico, atávico, ou ((pragmático]] –uma qualquer diferenciação essencial entre Exteriores Urbanos e Interiores Domésticos, na obra pictórica do pintor…”  Também Michael Amy10, Professor de História de Arte no Rochester Institute of Thenology, USA, e membro da International Association of Art Critics (AICA) escreve em “An Empire of Signs” (excerto): “The paintings belonging to the Exteriors series (2011-2012) fascinate me, with their accumulation of signs, their hints of three-dimensional space that is contradicted by other motifs emphasizing the plane, and their juxtaposition of figuration and degrees of abstraction.”  ( As pinturas que fazem parte da série Exteriores (2011-2012) fascinam-me, com a sua acumulação de sinais, as suas sugestões de um espaço tridimensional que é contraditado por outros motivos que enfatizam o plano, e a sua justaposição de figuras e níveis de abstracção.)

 

Em 2013, Pintomeira regressa à Fotografia. Uma passagem, embora breve, pela linguagem  fotográfica, aconteceu já em 1977, em Amesterdão. Em 2009, simultaneamente com a pintura, o autor fez uma aproximação à fotografia com uma série de trabalhos intitulados de Linhas Paralelas.  No entanto, é com o tema  "Somewhere"  um trabalho produzido no seu Estúdio, com modelos agenciados, que Pintomeira se dedica, exclusivamente à Fotografia. A escolha de um modelo, neste caso feminino, para o sujeito central deste trabalho fotográfico, foi determinada pelo facto de, na sua pintura, a figura humana ser, na maior parte das vezes, também, o seu elemento principal. Assim, a transição da pintura para a fotografia foi consequente, produzindo, numa e noutra, um trabalho figurativo que está presente em quase toda a sua obra. Estas fotografias, à semelhança do que acontece nos seus últimos trabalhos de pintura sobre tela “Interiores – Exteriores”, têm, também, alguns elementos (influências) das artes gráficas, do design, da publicidade e da pop art. De novo, Moisés de Lemos Martins, profundo conhecedor do percurso de Pintomeira, escreve no livro 

 

Art Composites  2014


 
.Somewhere. (excerto): "Estas
fotografias não são imagens felizes, tão longe estão da terra da alegria (“so far away”). Nenhuma esperança as redime. É esta profunda melancolia que se lhes cola à pele como a sombra de uma história sem sentido. Do lado de cá da tela, está o espectador, cúmplice desta história de progressivo esvaimento do sentido e a partilhar esta radical solidão, de objeto que o humano não habita mais. Tendo frequentado várias correntes estéticas, Pintomeira compõe este álbum de fotografias, no termo de uma longa viagem. Mantém-se fiel ao seu caminho de sempre, que lhe tem permitido exprimir e interrogar as muitas vicissitudes do humano. Mas, nos tempos mais recentes, sobretudo desde Interiores (2008 e 2009) e Outras Faces (2010), tem-se fixado com particular obstinação e radicalidade no território devastado do humano, de onde desertou o espírito e a Cidade ficou ao abandono, sem memória, de olhar perdido, sem rumo e sem horizonte". Cores Complementares, Art Composites e Exteriores são outras temáticas que continuam a ocupar o artista na linguagem fotográfica, paralelamente com a pintura.

 

Em 2015, Pintomeira inicia a produção de uma nova série intitulada CUTOUTS. Ele juntou as palavras do verbo "to cut out" e substantivou a aglutinação dando origem ao nome Cutout. A técnica consiste em pintar sobre tela não montada, recortar, em diversas partes, o trabalho figurativo produzido, e, posteriormente, ordenar os diversos elementos recortados numa composição harmoniosa. Finalmente, os elementos desta composição serão colados sobre outra tela montada em grade de madeira. Pintomeira recebeu, muito provavelmente, influências do pintor francês Matisse que, entre 1941 e 1952, produziu inúmeros cut outs, recortando papel de diversas cores e colando-os, posteriormente, sobre diversos suportes. Quanto à forma e expressão estética  parece-nos ter havido influências com origem nos murais (frescos) antigos, que podemos, ainda, encontrar nas paredes de templos, mas, já num estado muito degradado pelo tempo ou pela negligência do homem e restando da pintura original somente alguns detalhes, alguns fragmentos. Sobre este trabalho, Ramon Villares11, Professor Catedrático de História Contemporânea da Universidade de Santiago de Compostela escreve no livro "Pintomeira | Pintura | Fotografia", (excerto)

 

CUTOUTS  2015 | Colecção Privada


: “Pintomeira, chega a esta nova proposta na sua biografia, que é a série Cut-outs, inspirada na obra que o pintor
Henri Matisse desenvolveu nos derradeiros anos da sua vida... Para Matisse, aquele projecto tinha sido uma solução crepuscular; para Pintomeira é, pelo contrário, uma nova experiência na maturidade da sua trajectória artística. Depois de indagar no surreal ou de conciliar a arte figurativa com a necessidade da identidade, que marcou boa parte da sua obra, agora trata de entender o mundo actual, no que o fragmentário, o reutilizado, mas também os recortes fazem parte do discurso da sociedade presente, dos seus desafios e dos seus medos” 

E ainda: "Na longa trajectória artística do pintor, encontram-se várias etapas, conceptualmente diversas e audazes, no plano técnico. Um dos seus traços essenciais é, justamente, a sua capacidade para experimentar, para encontrar novas forma e novas linguagens num panorama como o da pintura contemporânea que está obrigada a mudar constantemente de pele, de se transformar perante os desafios de outras artes visuais e das mudanças para novos suportes. Pintomeira possui perícia técnica, formação intelectual, conhecimento dos rumos nacionais e internacionais da pintura e, além disso, uma forte vontade experimental. 

 

 

Em 2016, Pintomeira inicia a produção de NOVAS FACES. Algumas fotografias saídas das sessões realizadas no seu Estúdio e que fazem parte de “Somewhere”, são agora trabalhadas com acrílicos, pastel, grafite e outros materiais. Esta técnica mista produz trabalhos figurativos (Faces), onde a fotografia se mistura com a pintura. Estas duas linguagens artísticas da pintura e da fotografia passam a coabitar o mesmo espaço, dialogam e interagem visualmente, permitindo ao espectador uma observação de um todo em sintonia e ao artista duas caminhadas distintas num todo comum.

 

New Faces 2016 | Colecção Privada


Pintomeira fotografou e pintou, unindo as duas concepções estéticas na mesma área, sem conflitos nem interpretações dualistas.

 

O ano de 2016 assinala a passagem de 50 anos da carreira artística de Pintomeira. O facto foi motivo para a realização de uma Exposição Antológica com cerca de 100 obras, muitas oriundas de diversas colecções e também para a edição do livro bilingue,

 

Livro 500 páginas ed. 2016

de capa dura e 500 páginas, com o título Pintomeira Pintura | Fotografia12. O Município de Viana do Castelo, decidiu valorizar e relevar a sua obra, sendo condecorado com a medalha de  Cidadão de Mérito “pelos relevantes serviços prestados às artes plásticas e à cultura vianense”.

 

Em 2017 e 2018 o artista produz o seu 17º tema. Faces de Madonas do Renascimento, o seu quarto relacionado com o rosto feminino (Faces 2003, Outras Faces 2010 e Novas Faces 2016), ele revisita a obra renascentista, sendo, agora, 

 

Faces de Madonas do Renascimento 2018 | Colecção Privada


influenciado pelas devotas faces das Madonas produzidas durante esse admirável período da história da arte. Se a sua expressão devota e contemplativa nos remete para as obras de temática religiosa produzidas durante o renascimento, estas faces são de desenho simples e já de estilo maneirista.

 

Figuras em Movimento, iniciado em 2019, é o seu novo tema. O artista conseguiu uma forte expressão visual e estética, usando um conceito muito simples. Representa uma silhueta masculina ou feminina, caminhando e colocada num fundo liso e monocromático. O efeito visual é intrigante, às vezes brutal, devido à sua impressionante simplicidade. 

 

Figuras em Movimento | 2019 | Colecção Privada

Figuras em Movimento é a representação de um momento de alguém que caminha para um sítio qualquer. Nós não sabemos nada sobre essa pessoa, mas podemos pressupor alguma coisa. Algumas caminham de uma maneira errática, outros caminham com um propósito e de uma maneira mais assertiva. Representadas apenas silhuetas, Pintomeira nada nos diz sobre emoções ou sentimentos, uma vez que, neste caso particular, não é visível nenhuma expressão facial.

 

Estamos em 2020. Pintomeira apresenta a série, Cutouts 2, já iniciada em finais de 2019. O autor parece ter abandonado a representação figurativa que o acompanhou durante quase 50 anos (Surrealismo 1972 – Figuras em Movimento 2018). O desenho da figura humana, de objectos ou mesmo representações da natureza, deixou de ser utilizado como linguagem de expressão imagética ou como narrativa plástica de comunicação. Tendo sempre trabalhado a figuração, poderemos pensar que Pintomeira inicia, agora, uma tendência abstracionista? Não, totalmente. Na realidade, a abstracção não é plena nem categórica, uma vez que, e observando obras anteriores do artista, podemos identificar, também aqui, a representação de algumas figuras geométricas.

 

CUTOUTS 2  | 2020


Na composição e organização formal, o autor recorre à representação de círculos, rectângulos, linhas e outras. Para quem conhece toda a imensa obra de Pintomeira, e terá observado, com atenção, os seus últimos trabalhos, (Faces de Madonas do Renascimento 2017-2018 e Novas Faces 2016) notará que a figura ainda está presente, mas sobre um fundo estruturado e elaborado de um modo abstracto. Neste novo tema é utilizada uma técnica mista e de colagem. Na feitura destes Cutouts 2 são usados tecidos de diversos padrões, previamente cortados à tesoura, em diversos formatos e posteriormente colados (cut out and glue), sobre um fundo acrílico texturado.

 

Nesta já longa carreira, foram criados cerca de novecentos trabalhos em diversas técnicas e diferentes disciplinas, realizadas mais de uma centena de exposições individuais, inúmeras colectivas e participação em algumas feiras e bienais. Centenas de trabalhos fazem parte de colecções privadas, colecções públicas e institucionais espalhadas por diversos países da Europa, na USA, Canadá, Israel, Brasil e Japão.

 

Referências

 

1- https://pt.wikipedia.org/wiki/Deocriste

2 - https://nl.wikipedia.org/wiki/Nederlandse_Filmacademie

3 - https://nl.wikipedia.org/wiki/Stichting_CREA

4 - https://pt.wikipedia.org/wiki/COBRA

5 -http://biblioteca.cm-sintra.pt/Opac/Pages/Search/Results.aspx?Database=10222_BIBLIO& SearchText=ASS=%22Surrealismo--Pintura%22  

6https://www.worldcat.org/title/contornos-contours/oclc/67956722

7 - http://www.bivam.pt/autor/alberto-antunes-de-abreu/

8 - http://www.cecs.uminho.pt/investigador/moises-de-lemos-martins/

9 - https://issuu.com/jose-luisferreira 

10 - https://www.rit.edu/directory/mjafaa-michael-amy

11http://www.conselhogeral.uminho.pt/Uploads/Notas%20Biogr%C3%A1ficas/nb_Ramon_Villares.pdf

 12 - https://www.ruicarvalhodesign.com/portfolio/pintomeira-pintura-e-fotografia/

 

 

Publicações

 

Het Parool | Recensie Cultuur Supplement | Kunst Expositie,

Surrealisme, Galerie Jollijst, Februari 1975, Amsterdam, Netherlands

Metamorphoses | Le Salon 1978, Surrealisme | Catalogue Hommage à RenéMagritte, Grand Palais,

Paris, France,

Le surréel maniériste | M. de Hartog | Catalogue Expo Galerie Entremonde, Paris, France, 1978

Pintomeira | Livro, Amsterdam, Netherlands 1995 | De Appelbloesem Pers publishing | artworks produced 

between 1972 and 1994

Het Surrealisme van Pintomeira ( Pintorosha), 1978, intervieuw in tijdschrift Rath & Doodeheefver, Amsterdam, Netherlands

Contours 1997 | Donald Meyer, art critic, Amsterdam, Netherlands | Text Contours ISBN 90 7045 9167

Contours | Contornos | 1998, De Appelbloesem Pers publishing, artbook, Amsterdam, Netherlands,https://www.worldcat.org/title/contornos-contours/oclc/67956722

Catalogue Pintomeira - Pintura | 1999, Visão Gráfica | Pintoart | Depósito Legal 144276/99

Da Silhueta ao Pintor 2002 | Texto de Alberto Antunes de Abreu, historiador, escritor, ISBN 972-9071-37-3

Pintomeira | Pintura; Catálogo Nova Linha, 2003, depósito legal 205550/04, ISBN972-9071-37-3

Latitudes | Cahiers Lusophones, | Texto de Egídio Álvaro, crítico de arte, Paris, 2004, ISSN 1285-0756

Catalogue Pintomeira | Pintura, 2006 | retrospectiva 1970-2005 | Textos de Alberto Antunes de Abreu, Donald Meyer, Egídio Álvaro, Arlette Salgado Faria e Luis Chaves, 

http://www.worldcat.org/identities/viaf-284531829/

Da manipulação dos objectos à sua desmaterialização 2006 | Texto de Alberto Antunes de Abreu, historiador, escritor | catálogo retrospectiva 1970 | 2005

Catálogo Interiores 2009 | Pintomeira | Pintura, Enter Impressão Lda |

Exposição Interiores Museu D. Diogo de Sousa, Braga

Interiores | entrevista vídeo sobre o tema Interiores 2009 | localvisão | noticias, pintomeira

http://videos.sapo.cv/vMSHZnhIzGYjZOrnnaOd 

A erótica dos objectos 2009 | Texto de Moisés de Lemos Martins, Universidade do Minho, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), Catálogo Interiores

Outras Faces | Pintura | Pintomeira; 2010, Pintart, Catálogo, depósito legal 311065/10,

ISBN 978-989-20-1997-0

O espaço paradoxal da desaparição do sujeito 2010 | Texto de Moisés de Lemos Martins, Universidade do Minho, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), catálogo Outras Faces

ISBN 978-989-20-1997-0

Exteriores | Interiores | Pintomeira; 2011, Pintart, Catálogo, depósito legal 330722/11,

ISBN 978-989-20-2614-5

Exteriores & Interioridades 2011 | Texto de José Luís Ferreira, sociólogo, escritor, investigador de arte | Membro Académico Ind. IAA/AIE –International Association for Aesthetics,| catálogo Exteriores | Interiores ISBN 978-989-20-2614-5

Interiores. Exteriores | FCT Universidade Nova, Lisboa, publicação Design em Lisboa 2011 |

 http://design-em-lisboa.blogspot.com/2011/11/pintoneira.html

ArtWall, International Contemporary Art 2011 Zine, Internet Solutions and Publications,

 Londres, UK

https://issuu.com/artwallzine/docs/arlindo_magcloud

International Comtemporary Artists; 2012, ICA publishing, New York, USA, ISBN 9786188000728

Prospero International Art Book; 2012, INSAT publishing, copyright 2012 Insat Lda,

ISBN 978-972-97566-6-5

Art Unlimited, MOT publishing, Contemporary Artists. 2014, Londres, UK, ISBN 978-91-89685-28-8

Somewhere | Catálogo Studio Photography | 2014, Pintart, depósito legal 376075/14,

ISBN 978-989-20-4820-8

Fotografias como pinturas sobre telas. A declinação da melancolia 2014 | Texto de Moisés de Lemos Martins, Universidade do Minho, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) | Catálogo Somewhere

ISBN978-989-20-4820-8

Os Cut-outs como metáfora do nosso tempo 2015 | Ramon Villares, História Contemporânea, Universidade de Santiago de Compostela, Presidente do Conselho da Cultura Galega | Publicado em Catálogo Cutouts

ISBN 978-989-20-6470-3, Março 2016

Cutouts | Pintura, 2016, Pintart, Catálogo, Depósito legal 405846, ISBN 978-989-20-6470-3,

Março 2016

Fragmentos de uma viagem 2016 | Álvaro Laborinho Lúcio, Juiz Conselheiro, escritor, 

https://issuu.com/pintomeira/docs/book_500_pag._hardcover_._2016 | pag.103

Os limiares dos encontros 2016, Marzia Bruno, Curadora | História da arte, Estudos Museológicos e Curadoria

https://issuu.com/pintomeira/docs/book_500_pag._hardcover_._2016   pag.115  

Pintomeira | Painting | Photography 2016, Livro capa dura, 500 páginas, edição CM Viana do Castelo,
ISBN 978 972 588 255 9

https://issuu.com/pintomeira/docs/book_500_pag._hardcover_._2016 

An Empire of Signs 2017 | https://www.rit.edu/spotlights/o-imperio-de-sinais-empire-signs | Essay by Michael Amy Ph.D. | College of Imaging Arts & Sciences, Rochester Institute of Technology, Rochester, USA

7 Fragmentos em A, 2018 | A figura feminina e a quentura das cores | Arlette Salgado Faria,

ISBN 978-972-588-265-8

Autopsying the moribund art blader 2018, essay by Pintomeira

Temáticas 2002 . 2020 | Catálogo 40 páginas 2020 | Edição Pintarte | Depósito legal 467572/20 | ISBN 978989 33 0361 0

https://issuu.com/pintomeira/docs/catalogo_pintomeira

MoMA issue of World of Art Contemporary Art Magazine | Publishing World Of Art (WOA), 2020 | Londres, UK | ISSN: 1404-3408 ISBN: 9789189685451

 

Obra | Temas 1966 - 2020

  • Desenho 1966-1971
  • Surrealismo 1972-1978
  • Paisagem 1984-1987
  • Contornos 1992-1999
  • Nova Linha 1999-2007
  • Faces 2003-2010
  • Interiores 2008-2010
  • Exteriores 2011-2013
  • Outras Faces 2010
  • Fotografia 2013-
  • Cutouts 2015-2016
  • Arte Digital 2014-2015
  • Novas Faces - 2016
  • Faces Renascimento - 2017 . 2018
  • Moving Figures 2019
  • Cutouts 2 - 2020

 

 

Websites


http://pintomeiragallery.com

http://pintomeira.blogspot.com

https://independent.academia.edu/ArlindoPintomeira