1 Charles
A. Csuri Project | College of Arts and Ciences
https://csuriproject.osu.edu/index.php/About/arthistor
2 Charles Csuri: When I began working with the computer, I
had to look closely at how it could be used within an artistic context.
3 – Charles A.
Csuri Project | College of Arts and Ciences Advanced Computing Center for Arts and
Design (ACCAD)
https://accad.osu.edu/
Na
aurora da arte digital, o artista alemão, Manfred Mohr,4 foi outro
pioneiro que muito contribuiu para o seu desenvolvimento, realizando em 1971
uma exposição individual na ARC- Museu de Arte Moderna5 da cidade de Paris, que
iria ficar na história como a primeira mostra de arte gerada num computador.
Sendo considerado um destacado artista neste género de arte, diz-se,
sublinhando o seu trabalho, que Manfred Mohr ensinou o computador a fazer arte.
Ele próprio declarou: “A ideia de criar
arte a partir de algoritmos é o ponto central do meu trabalho, onde uma lógica
não visual irá criar uma obra visual.
Manfred Mohr
| P-702/D 2000
O
seu trabalho, resultante da procura
de uma arte virtual habitada pela sua imaterialidade foi diversas vezes
transferido para suportes físicos através de impressão digital ou produzido manualmente pelos métodos convencionais. Ele é fortemente geométrico, representando quadrados, rectângulos, cubos ou simples traços, chegando até nós em desenhos e
pinturas minimalistas preenchidas de uma forte componente cromática
As décadas de 1960 . 1970 . 1980 foram tempos de pesquisa e experimentalismo, de erro e descoberta a caminho da afirmação da arte digital, encontrando-se a grande maioria dos artistas ainda alheada dos esforços levados a cabo por esses brilhantes pioneiros. Nos seus estúdios, eles debatiam-se com o conceptual, o minimalismo, a arte povera, o hiper-realismo, e o neo expressionismo, entre outros movimentos. As galerias e os museus obedeciam aos mercados e a arte digital ainda estava no limbo, merecendo ainda muito pouco acolhimento.
4 Manfred Mohr | Celebrating my 50 Years of Artwork and Algorithms 1969 - 2019
http://www.emohr.com/
5 Manfred Mohr - Computer Graphics
"Une Esthétique Programmée"
ARC - Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris
11. May - 6. June 1971
http://www.emohr.com/paris-1971/index.html
O alemão, Wolf Lieser,6 um artista habitando a área da fotografia, já aqui citado, foi
o grande promotor da arte digital e da sua história, através da sua
bibliografia activa com a edição de diversos livros sobre a matéria e da
criação, em 1998, do Digital Art Museum (DAM),7 o primeiro
museu online. Foi também muito importante o seu papel na divulgação da arte
digital e dos seus artistas com a fundação, em 2003, de uma Galeria física, (DAM
Gallery), em Berlim e com a realização de simpósios sobre Media Art e Art
Market, sublinhando, aqui, o realizado no Lentos Kunstmuseum em Linz, Austria, em 2016.
The
world of Digital Art | autor Wolf Lieser | ISBN 9783833157608
Entre 2005 e
2012 foi, também, o agente fundador do prémio DDAA (D.Velop Digital Art
Award) em colaboração com
a Kunsthalle de Bremen. Wolf Lieser definiu assim esta forma de expressão de
criação artística: “Fazem parte da arte
digital as obras artísticas que tendo por um lado uma linguagem visual
especificamente mediática, revelam, por outro, as metacaraterístcas do meio.”
Wolf Lieser
considera ainda que: A arte digital ganhará
maior aceitação no mercado de arte. Basicamente, ela virá a desempenhar um
papel importante na arte do século XXI, porque está intimamente relacionada com
nosso estilo de vida, como nos comunicamos e como organizamos as nossas vidas. Da mesma forma que a TV transformou dramaticamente o século XX, a arte digital
definitivamente influenciará o século XXI.8
Wolf Lieser foi, realmente, o arrebatado visionário e o persistente construtor dos alicerces necessários para que a arte digital se encontre hoje situada num patamar de influência e numa conjuntura de credibilidade perante o público e os mercados da arte.
6 Wolf Lieser Gallerist,
Deutschland
http://netzspannung.org/cat/servlet/CatServlet?cmd=document&subCommand=show&forward=/biography/output/biography.xml&biographyId=260837&lang=de
7 DAM
Digital Art Museum
https://dam.org/
8 Media Art e mercato dell’arte:
intervista a Wolf Lieser
http://digicult.it/it/news/media-art-art-market-interview-wolf-lieser/
É importante sublinhar que a ciência e
a tecnologia já, nos fins do século XIX, tinham produzido ferramentas
importantes que acabariam por ser usadas para a concepção de linguagens criativas
específicas e novas formas de olhar a estética na área da expressão artística.
A fotografia e o cinema (sétima arte) são as mais relevantes e centram-se na
técnica de criação de imagens fixas, a primeira e imagens em movimento, a
segunda.
A primeira fixação de uma imagem numa
superfície fotossensível aconteceu 1826, atribuída ao francês Joseph
Primeira
fotografia por Joseph Nicéphore Niépce em superfície fotossensível | 1816
Nicéphore
Niépce.9 No entanto, foi quando o artista francês Louis Jacques Mandé Daguerre, pintor, cenógrafo e pesquisador apresentou, em 1939, o seu daguerreótipo na Academia de Ciências e Belas Artes de Paris que a câmara fotográfica entrou num rápido processo
evolutivo.
Ao longo dos tempos, com o contributo de diversos cientistas, ela foi-se desenvolvendo chegando aos nossos dias
provida de tecnologia digital e pronta para criar obras fotográficas de valor
estético e artístico elevado sendo, muitas delas, trabalhadas em programas de software específicos.
A fotografia,
como manifestação de arte digital, ocupa hoje um lugar de relevo nos espaços
expositivos de prestígio.
9 1816-1818 — Niépce’s first Experiments
https://www.dw.com/pt-br/1816-primeira-fotografia/a-515945
10 Nasce Louis Daguerre, o inventor da fotografia
Os novos meios de produção artística,
primeiro a fotografia (1826, J.N. Niépce) depois o cinema (1895, Auguste e
Louis Lumière) e principalmente com o advento da videoarte (1963, Wolf Vostell)11
o computador pessoal (personal computer IBM 1975),12 a internet (1974) e as
ferramentas hardware e software, derrubaram as técnicas tradicionais e os
métodos ortodoxos e academicistas e ofereceram ao artista novos conhecimentos,
novas e inúmeras práticas inventivas e novos e amplos espaços para o exercício criativo,
onde a arte digital acabaria, finalmente, por se impor num mundo já saturado de
ideias/conceitos (a arte conceptual), de instalações aleatórias e dispensáveis
e de inúmeras construções gigantescas, fortuitas
e efémeras, tudo fazendo parte da chamada arte do nosso tempo.
11 Wikiwand
https://www.wikiwand.com/pt/Wolf_Vostell
12 The complete history of the IBM PC, part one: The deal of the century
https://arstechnica.com/gadgets/2017/06/ibm-pc-history-part-1/
A Media Art que abarca obras de arte
criadas através do uso de um componente tecnológico, neste caso o computador,
aborda diversas disciplinas, como web art, video art, multimedia art,
digital art e outras que, embora existindo uma inter-relação, elas possuem
as suas especificidades tanto no seu modus faciendi como na sua
componente visual e estética, estando todas situadas no contexto das
manifestações da arte contemporânea.
A arte digital, no momento da sua
produção, dimana de um conceito germinado na mente do seu autor com a intenção
única da criação de uma obra de arte, usando as ferramentas já mencionadas,
sendo trabalhada e exibida em ambiente virtual. Considerando que a arte digital se
desenvolve, na sua génese, a partir de uma ideia-imagem produzida na mente do
seu criador, tal como acontece nas outras linguagens tradicionais de expressão
artística, ela, nada mudando conceptualmente, pouco mudando na sua idealização
formal, compositiva e estética, irá modificar-se profundamente na sua componente
laborativa, física e exibitiva.
Com efeito, a
arte digital caracteriza-se pela sua laboração num espaço computacional com
acesso à internet, através das ferramentas disponíveis e qualifica-se pela sua imaterialidade e pela sua exibição em ambientes virtuais ou em rede, como já referenciamos. Consideramos ainda outras características que a diferenciam das
convencionais artes plásticas: a sua ubiquidade, efemeridade e falta de
unicidade.
DAPH | digital art |
2013 | Pintomeira
Academia.adu | Pintomeira
https://independent.academia.edu/ArlindoPintomeira
Pintomeira | artes plásticas e arte digital
https://contact5f39.myportfolio.com/projects
Possuindo um
longo percurso na criação artística, mais acentuadamente, na área das artes
plásticas, sendo a pintura a mais trabalhada, sei concluir que esta, existindo expressa
na matéria física, não pode ser comparada com a arte digital devido à falta de materialidade e fisicalidade desta e à sua existência em ambiente virtual
Embora sabendo
que, na sua feitura, a arte
digital incorpora ciência, tecnologia e virtualização, sei também que o seu processo
criativo, quer na sua abordagem conceptual ou na sua relação com o pathos
ou com o emotivo, não depende do suporte, das ferramentas, ou das técnicas
utilizadas. No entanto as ideias românticas e as surpresas emocionais dos artistas do século XIX não compartilham este espaço, agora habitado por computadores, algoritmos, digitalidade, software e racionalidade, tudo isto colocado na mesa da criação artística.
Os meus
trabalhos artísticos produzidos no âmbito da arte digital, através das
ferramentas próprias de um programa computacional e partilhados em rede, são
uma expressão de
Desencontro DAPH | digital art |
2013 | Pintomeira
actividade intelectual tal qual as outras obras por mim criadas
nas diversas linguagens das artes plásticas e sendo ambas colocadas no contexto
multidimensional e plurifacetado da arte contemporânea.
Ao decidir
utilizar as ferramentas tecnológicas ao dispor no meu computador através da
computação gráfica, eu passei a habitar um ambiente digital da criação
artística, entrando em ruptura com a convencional representação imagética sobre
uma estrutura física.
No entanto, a sua
génese, a sua concepção, a ideia primeira de uma obra de arte digital
transporta consigo o mesmo ADN que a concepção de uma obra de arte produzida com estruturas e
ferramentas físicas. Ambas pariram do mesmo útero mental do seu autor,
fecundadas pela sua capacidade imagética e sensibilidade estética.
A arte digital
é global, navega sem algemas e não traz na coleira os rótulos e os clichés da
arte clássica, moderna ou contemporânea, não é domada pelo poder hegemónico dos
mercados da arte e não se deixa impressionar pelo discurso nada dizente de
alguns críticos e curadores.
A arte digital,
descoberta acidentalmente pelo cientista, pelo matemático, e abraçada com entusiasmo
por alguns artistas pioneiros a partir da década de 1960, atingiu já a sua assumpção
plena no mundo da arte contemporânea.
A
semente lançada pelo cientista em terreno computacional, no início da década de 1960, germinou, cresceu e fez-se árvore com ramificações
diferenciadas. Desde muito cedo, o artista decidiu colher os seus frutos
e com eles produzir manifestações artísticas que fazem hoje parte da New Media Art. Esta comporta diferentes formas de arte digital que acabaram por se impor numa
coabitação híbrida onde se encontram abrigadas num contexto virtual ou
mesmo físico, a pintura, instalações interactivas, vídeoarte e outras.
A
arte digital atravessou um mundo de rápidas transformações tecnológicas
e, adaptando-se e tirando proveito delas, hoje, confirmando a visão de
Wolf Lieser, ela tem o seu público, impôs-se no mundo das galerias e museus de prestígio e alcançou os
mercados da arte.
Este texto não segue o novo acordo ortográfico
Pintomeira
2020
Artista
Plástico | Ensaísta
pintomeiragallery.com
Ensaio publicado em https://independent.academia.edu/ArlindoPintomeira
Datas
importantes na evolução da arte digital
1960 . Surgimento do termo Computação Gráfica
1963 . Primeira obra de arte gerada por um
computador | “Colibri” de
Charles Csuri | computer-animated film.
1965 . Primeira Exposição de arte digital
“Computerfrafik” de Geor Nees em Stuttgart
https://www.heikewerner.com/nees_en.html
1968 . Cybernetic Serendipty | Exposição:
computadores e arte no Instituto de Arte Contemporâneo em Londres, UK
https://monoskop.org/Cybernetic_Serendipity
1971 . 1ª Exposição individual de Arte Digital de
Manfred Mohr no NAM de Paris, França
http://lounge.obviousmag.org/zoom_nas_visceras/2015/07/a-estetica-programada-de-manfred-mohr.html por João da Rocha em Obvious
1979 . 1ª Conferência sobre arte e electrónica
por Manfred Mohr, em Linz, Austria
1988 . Computador e arte digital | Exposição na
Galeria Cleveland, Middlesborough, UK.
1994 . 1ª edição do Festival de Arte Electrónica,
Países Baixos
1995 . O artista esloveno anuncia o termo Net
Art
1998 . Criação do Digital Art Museum | Virtual
Museum, por Wolfgang Lieser, Berlim, Alemanha
2001 . O termo Software Art surge no
Festival Transmediale, Berlim, Alemanha
2003 . Simpósio sobre arte digital e cultura,
MOMA, New York, USA
2005 . Criação do prémio ARTE DIGITAL (DDAA),
Berlim, Alemanha