23.11.14

OUTRAS FACES

A Pop Art e o Design Gráfico inscrevem-se no movimento contemporâneo de dessacralização da imagem, o que também quer dizer de dessacralização da arte. Obras de arte sem aura, as imagens da Pop Art e do Design Gráfico têm o seu destino associado à cultura de massas, designadamente à publicidade, à fotografia e ao cinema, e uma condição marcadamente tecnológica, tanto por serem formas tecnicamente reproduzidas como por integrarem a dinâmica da cultura digital. Filiado nestas expressões das artes visuais, uma cultura que imbrica com as artes do espectáculo, o processo de produção artística de Pintomeira compreende a labiríntica travessia do reino das imagens dos media, que saltam para a tela do pintor, tanto da página do jornal ou da revista, como da pantalha do cinema ou do ecrã do computador. E a utilização do Photoshop, um recurso da sua apurada técnica de manipulação das imagens, assim como a impressão digital da imagem sobre tela, apenas confirmam este movimento da arte, que tanto a aproxima das massas como a aproxima das máquinas.  ‘Outras Faces’ figura a homogeneidade absoluta de sujeito e objecto, de tempo e espaço, num processo de retorno encantatório do mesmo (retrato). Os mesmos retratos dão-nos a ver sujeitos passivos, desnudados, na maior solidão, sujeitos de mera superfície e artifício, sem qualquer interioridade, sujeitos que se libertam de toda a significação natural para ganhar a intensidade espectral do ícone, uma intensidade vazia de sentido. São assim, aliás, os sujeitos mediáticos, as estrelas de cinema e da Pop music, por exemplo, como Warhol no-lo deu a ver nos retratos de Marilyn Monroe, Elisabeth Taylor, Marlon Brando e Elvis Presley. E são assim também os retratos de “Outras  Faces”, que nos mostram sujeitos frios e inexpressivos, rebaixados a uma condição profana, sujeitos que não passam de imagens sem aura, realizações mecânicas, decalcadas tanto dos produtos mass-mediáticos como dos artigos comerciais, uns e outros produzidos em série.