A Pop Art e o
Design Gráfico inscrevem-se no movimento contemporâneo de
dessacralização da imagem, o que também quer dizer de dessacralização da
arte. Obras de arte sem aura, as imagens da Pop Art e do Design Gráfico
têm o seu destino associado à cultura de massas, designadamente à
publicidade, à fotografia e ao cinema, e uma condição marcadamente
tecnológica, tanto por serem formas tecnicamente reproduzidas como por
integrarem a dinâmica da cultura digital.
Filiado nestas expressões
das artes visuais, uma cultura que imbrica com as artes do espectáculo, o
processo de produção artística de Pintomeira compreende a labiríntica
travessia do reino das imagens dos media, que saltam para a tela do
pintor, tanto da página do jornal ou da revista, como da pantalha do
cinema ou do ecrã do computador. E a utilização do Photoshop, um recurso
da sua apurada técnica de manipulação das imagens, assim como a
impressão digital da imagem sobre tela, apenas confirmam este movimento
da arte, que tanto a aproxima das massas como a aproxima das máquinas.
‘Outras Faces’ figura a homogeneidade
absoluta de sujeito e objecto, de tempo e espaço, num processo de
retorno encantatório do mesmo (retrato). Os mesmos retratos dão-nos a
ver sujeitos passivos, desnudados, na maior solidão, sujeitos de mera
superfície e artifício, sem qualquer interioridade, sujeitos que se
libertam de toda a significação natural para ganhar a intensidade
espectral do ícone, uma intensidade vazia de sentido. São assim, aliás,
os sujeitos mediáticos, as estrelas de cinema e da Pop music, por
exemplo, como Warhol no-lo deu a ver nos retratos de Marilyn Monroe,
Elisabeth Taylor, Marlon Brando e Elvis Presley. E são assim também os
retratos de “Outras Faces”, que nos mostram sujeitos frios e
inexpressivos, rebaixados a uma condição profana, sujeitos que não
passam de imagens sem aura, realizações mecânicas, decalcadas tanto dos
produtos mass-mediáticos como dos artigos comerciais, uns e outros
produzidos em série.