9.11.14

FACES





Aparentemente, as obras que fazem parte do tema Faces parecem ter nascido de uma simples e descomplicada elaboração. Mas, só aparentemente. Na verdade, a sua construção é morosa e muito trabalhada, podendo o processo criativo dividir-se em quatro fases distintas. Nos trabalhos sobre tela, o artista começa por estruturar um fundo, colocando diversas camadas e usando recorrentemente tons cinza. Sobre esse fundo, ele agrupa diversos espaços, uns geométricos, outros aleatórios, de um cromatismo equilibrado, utilizando quase sempre duas cores, umas vezes complementares, outras vezes cores e tons vizinhos. Surgem, seguidamente, os pontos, os traços densos, as linhas “paralelamente” irregulares e, pela primeira vez, ele introduz o tracejado, colocado em linhas rectas ou em formas geométricas. Posteriormente, acontece o aumento do fundo cinza através de uma subtração ou destruição dos espaços cromáticos antes pintados. Nesta fase, a obra já poderia ser exposta e situada na área do abstracionismo. Mas, Pintomeira sempre foi um figurativo e vai continuar a sê-lo. E, assim, o artista chega ao momento de encetar a abordagem final, a figuração, a representação. Tudo se resume a um desenho simples de uma face feminina, às vezes, andrógena, executada em pinceladas enérgicas trazidas em densos contornos pretos. Ela está poderosamente presente, ocupando grande parte da superfície do quadro. A expressão é contemplativa, de indulgência, de compaixão, levando-nos a fazer emergir da memória as madonas renascentistas.