A
cor é uma percepção visual sendo utilizada pelos artistas, designers,
arquitectos e outros, para causar na apreensão humana, sensações diversas,
influenciando fortemente as emoções ao estimular de formas distintas os nossos
sentimentos.
Pintomeira,
já com um longo percurso e uma vasta obra na pintura, tem também durante esse longo
trajecto, realizado trabalhos na área da fotografia artística. Muitas vezes, a
fotografia, nunca sendo secundarizada por ele, tem servido de muleta para a
construção das suas pinturas, como aconteceu nos temas Interiores, Exteriores e
Outras Faces.
Analisando
o seu trabalho já realizado nesta área, percebemos que ele é eclético e
diversificado na concepção primeira e na assumpção final: a ideia e a forma.
Tendo,
na pintura, sempre habitado o campo da expressão figurativa, na fotografia a
figura humana está também sempre presente, quer na representação de corpo
inteiro ou de meio corpo e que, neste tema Fotografia
| Cores Complementares, que agora analisamos, somente um pequeno detalhe do
corpo é vagamente observado, uma vez que ele acaba por ser subjugado pela
preponderância que o artista decidiu atribuir à cor.
Na
ciência das cores, duas delas são denominadas de complementares se, quando
misturadas, dependendo das proporções, produzirem o branco, o preto ou
gradações de cinza. A cor complementar de uma cor primária é aquela produzida
pela mistura das outras duas primárias. As cores primárias são as chamadas
cores puras: o amarelo, o azul e o vermelho. Quando o artista escolhe o
vermelho e o quer combinar com a sua cor complementar para que as duas se
evidenciem na obra que está a ser criada, essa cor será o verde, uma vez que
ele é produzido pela mistura das outras duas cores primárias que ficaram de
fora: o azul e o amarelo. Se ele optou pelo amarelo, a sua cor complementar
será o violeta, originado da junção das primárias azul e vermelho. A cor
complementar de uma primária é chamada de cor secundária: verde, laranja e
violeta.
As
primárias e as suas complementares são aquelas que assumem lugares diametralmente
opostos no círculo cromático, sendo considerada uma como cor quente e a outra
como cor fria. É importante dizer que nós estamos a considerar, nestes escritos,
somente o sistema do circulo cromático usado normalmente pelos artistas, o RYB,
deixando de fora qualquer outro sistema, como o RGB ou o CMYK.
Pintomeira
construiu este seu novo trabalho fotográfico assumindo toda esta teoria das
cores e tirando partido dela para criar uma obra onde a sua maior atenção foi
atribuída a essas combinações complementares.
Este
seu tema, Fotografia | Cores
Complementares constitui um conjunto de fotografias realizadas no seu estúdio,
sendo posteriormente trabalhadas no seu computador utilizando programas de
software disponíveis, onde são feitos pequenos ajustes, como recorte, aumento
da área da cor primária ou complementar, junção de formas geométricas e
desenho. Convém realçar que a combinação das cores complementares é realizada
no seu estúdio, aquando da sessão fotográfica, utilizando para esse fim,
tecidos ou panos de cores variadas que cobrem as modelos ou são colocados junto
deles e através de móveis e outros objectos que trazem o contraste cromático necessário
para a composição idealizada.
Estas
obras fotográficas são criações artísticas sintetizadas, quase sem imagética,
situadas, muitas delas, no campo do minimalismo ou mesmo do conceptual ou do
abstrato. O trabalho CC14 apresenta-nos uma fotografia saída directamente do
sensor da câmara fotográfica e mostra-nos um espaço rectangular preenchido e
dominado pelo seu campo cromático formado pela primária vermelho e pela sua complementar
verde. No centro do rectângulo, um espaço diagonal, cor de pele, traz dinâmica
ao cromatismo que o artista concebeu, tendo em mente, só e simplesmente, a
preocupação de criar uma composição esteticamente agradável, sem simbolismos
nem mensagens.
Como
acontece em obras de outros temas, aqui também Pintomeira demonstra uma forte
capacidade de síntese e uma vontade firme e assumida de criar trabalhos fora
dos cânones, desobedecendo às regras, sendo relevante, para si e só, a
agradabilidade visual que a obra, depois de considerada terminada, lhe confere.
Se
é verdade que as cores possuem uma influência muito forte sobre as emoções e
havendo quem lhes atribua as valências para influenciar estados de alma e
caracterizações ou avaliações do pathos
e do ethos, Pintomeira decide
alhear-se de tudo isso e racionalmente entregar-lhes a função objectiva de
“ferramenta” que o ajuda a compor um espaço que ele quer apreender como
aprazível no campo estético-artístico. É isso que acontece com estes trabalhos
fotográficos. Se o cérebro assimila primeiro a cor e se deixa sensibilizar por
ela, mesmo antes de identificar a forma, assim e aqui, o artista deu autoridade
e autonomia às cores que, sendo primárias e em combinações complementares,
acabam por assumir a preponderância que o autor lhes quis conferir.
A
fotografia CC6 mostra-nos a face de uma modelo, em modo retrato, onde abunda o
informalismo e a inortodoxia, atestando o que temos vindo a afirmar: Pintomeira
assume, uma vez mais, a relevância que imprime à composição cromática,
evidenciada aqui pela utilização da cor primária amarelo e a sua complementar
violeta que, apesar da presença clara de um rosto feminino, são essas cores que
captam e se apoderam da nossa atenção. O
trabalho tem a forma rectangular, onde o cabelo, o rosto, o pescoço e uma
pequena parte do ombro esquerdo completam uma diagonal dessa figura geométrica.
A face apresenta-se-nos infinitamente calma, dormente e pálida, parecendo estar
inanimada, não podendo, por isso mesmo, dominar a composição que vive do
colorido abundante e contrastante conferido pela combinação complementar.
Em
Pintomeira, a fotografia que, etimologicamente significa “desenhar” com luz,
percorre caminhos não usuais, arrisca abrir portas para ver como se comporta
para além delas e, sem freios, agarra o contraste, a luminosidade e intensidade
que as cores em combinações complementares lhe oferecem para criar “desenhos” de
uma agradável expressão estético-artística.