14.2.12

Fotografias em Cores Complementares



A cor é uma percepção visual sendo utilizada pelos artistas, designers, arquitectos e outros, para causar na apreensão humana, sensações diversas, influenciando fortemente as emoções ao estimular de formas distintas os nossos sentimentos.
Pintomeira, já com um longo percurso e uma vasta obra na pintura, tem também durante esse longo trajecto, realizado trabalhos na área da fotografia artística. Muitas vezes, a fotografia, nunca sendo secundarizada por ele, tem servido de muleta para a construção das suas pinturas, como aconteceu nos temas Interiores, Exteriores e Outras Faces.
Analisando o seu trabalho já realizado nesta área, percebemos que ele é eclético e diversificado na concepção primeira e na assumpção final: a ideia e a forma.
Tendo, na pintura, sempre habitado o campo da expressão figurativa, na fotografia a figura humana está também sempre presente, quer na representação de corpo inteiro ou de meio corpo e que, neste tema Fotografia | Cores Complementares, que agora analisamos, somente um pequeno detalhe do corpo é vagamente observado, uma vez que ele acaba por ser subjugado pela preponderância que o artista decidiu atribuir à cor.
Na ciência das cores, duas delas são denominadas de complementares se, quando misturadas, dependendo das proporções, produzirem o branco, o preto ou gradações de cinza. A cor complementar de uma cor primária é aquela produzida pela mistura das outras duas primárias. As cores primárias são as chamadas cores puras: o amarelo, o azul e o vermelho. Quando o artista escolhe o vermelho e o quer combinar com a sua cor complementar para que as duas se evidenciem na obra que está a ser criada, essa cor será o verde, uma vez que ele é produzido pela mistura das outras duas cores primárias que ficaram de fora: o azul e o amarelo. Se ele optou pelo amarelo, a sua cor complementar será o violeta, originado da junção das primárias azul e vermelho. A cor complementar de uma primária é chamada de cor secundária: verde, laranja e violeta.
As primárias e as suas complementares são aquelas que assumem lugares diametralmente opostos no círculo cromático, sendo considerada uma como cor quente e a outra como cor fria. É importante dizer que nós estamos a considerar, nestes escritos, somente o sistema do circulo cromático usado normalmente pelos artistas, o RYB, deixando de fora qualquer outro sistema, como o RGB ou o CMYK.
Pintomeira construiu este seu novo trabalho fotográfico assumindo toda esta teoria das cores e tirando partido dela para criar uma obra onde a sua maior atenção foi atribuída a essas combinações complementares.
Este seu tema, Fotografia | Cores Complementares constitui um conjunto de fotografias realizadas no seu estúdio, sendo posteriormente trabalhadas no seu computador utilizando programas de software disponíveis, onde são feitos pequenos ajustes, como recorte, aumento da área da cor primária ou complementar, junção de formas geométricas e desenho. Convém realçar que a combinação das cores complementares é realizada no seu estúdio, aquando da sessão fotográfica, utilizando para esse fim, tecidos ou panos de cores variadas que cobrem as modelos ou são colocados junto deles e através de móveis e outros objectos que trazem o contraste cromático necessário para a composição idealizada.
Estas obras fotográficas são criações artísticas sintetizadas, quase sem imagética, situadas, muitas delas, no campo do minimalismo ou mesmo do conceptual ou do abstrato. O trabalho CC14 apresenta-nos uma fotografia saída directamente do sensor da câmara fotográfica e mostra-nos um espaço rectangular preenchido e dominado pelo seu campo cromático formado pela primária vermelho e pela sua complementar verde. No centro do rectângulo, um espaço diagonal, cor de pele, traz dinâmica ao cromatismo que o artista concebeu, tendo em mente, só e simplesmente, a preocupação de criar uma composição esteticamente agradável, sem simbolismos nem mensagens.
Como acontece em obras de outros temas, aqui também Pintomeira demonstra uma forte capacidade de síntese e uma vontade firme e assumida de criar trabalhos fora dos cânones, desobedecendo às regras, sendo relevante, para si e só, a agradabilidade visual que a obra, depois de considerada terminada, lhe confere.
Se é verdade que as cores possuem uma influência muito forte sobre as emoções e havendo quem lhes atribua as valências para influenciar estados de alma e caracterizações ou avaliações do pathos e do ethos, Pintomeira decide alhear-se de tudo isso e racionalmente entregar-lhes a função objectiva de “ferramenta” que o ajuda a compor um espaço que ele quer apreender como aprazível no campo estético-artístico. É isso que acontece com estes trabalhos fotográficos. Se o cérebro assimila primeiro a cor e se deixa sensibilizar por ela, mesmo antes de identificar a forma, assim e aqui, o artista deu autoridade e autonomia às cores que, sendo primárias e em combinações complementares, acabam por assumir a preponderância que o autor lhes quis conferir.
A fotografia CC6 mostra-nos a face de uma modelo, em modo retrato, onde abunda o informalismo e a inortodoxia, atestando o que temos vindo a afirmar: Pintomeira assume, uma vez mais, a relevância que imprime à composição cromática, evidenciada aqui pela utilização da cor primária amarelo e a sua complementar violeta que, apesar da presença clara de um rosto feminino, são essas cores que captam e se apoderam da nossa atenção.  O trabalho tem a forma rectangular, onde o cabelo, o rosto, o pescoço e uma pequena parte do ombro esquerdo completam uma diagonal dessa figura geométrica. A face apresenta-se-nos infinitamente calma, dormente e pálida, parecendo estar inanimada, não podendo, por isso mesmo, dominar a composição que vive do colorido abundante e contrastante conferido pela combinação complementar.
Em Pintomeira, a fotografia que, etimologicamente significa “desenhar” com luz, percorre caminhos não usuais, arrisca abrir portas para ver como se comporta para além delas e, sem freios, agarra o contraste, a luminosidade e intensidade que as cores em combinações complementares lhe oferecem para criar “desenhos” de uma agradável expressão estético-artística.