6.2.12

NOVAS FACES




Novas Faces | Fotografia e Pintura num espaço comum

Pintomeira é um artista figurativo, na pintura e na fotografia. A sua concepção é livre, estando próxima do movimento da Nova Figuração que surgiu nas décadas de 60 e de 70, como reacção ao abstracionismo e à arte minimalista e conceptual. Ele concentra-se, maioritariamente, à volta da figura humana, sendo, a imagem da face corpórea, a mais recorrente, como o demonstram os temas Faces e Outras Faces que, entre 2003 e 2010 fizeram parte do seu percurso de criação artística, estes no campo da Pintura. Novas Faces é o se seu mais recente trabalho, construído à volta de rostos de modelos femininos, fotografados no seu estúdio.
O seu primeiro encontro com a fotografia aconteceu em Amesterdão, em 1977. Após o seu abandono do curso de iniciação à realização cinematográfica, restou-lhe a Fotografia. Das imagens em movimento com a cadencia padrão de 24 por segundo, sobraram-lhe as imagens estáticas captadas pelo sensor da sua máquina fotográfica. Sendo a pintura o seu trabalho primeiro e principal, a fotografia situava-se num lugar complementariedade, servindo muitas vezes aquela. Mas, não sempre. A fotografia foi, em determinados períodos, a sua manifestação artística principal, monopolizando toda a sua atenção, em detrimento da pintura. O seu trabalho mais recente está a preencher um desses períodos.
Neste caso específico das Novas Faces que agora analisamos, estas duas linguagens, fotografia e pintura, encontram-se e abraçam-se sobre o mesmo suporte para a criação de uma nova expressão estética, o que demonstra, uma vez mais, a sua obstinação pela procura da inovação que muito tem caracterizado todo o percurso do artista. A imagem captada pelo sensor da sua camara DSLR e posteriormente impressa sobre papel, não vai ser abordada como a fotografia convencional que é de imediato colocada em moldura e pronta para ser exibida. A mostra de fotografias em espaços expositivos está hoje muito generalizada. As vulgares fotografias de família, de amigos, de férias e de viagem, onde a preocupação artística e estética é secundarizada, ganharam o direito, mesmo assim, a marcar presença nas paredes das salas de museus e galerias onde, muito raramente, encontramos as autenticas obras de arte fotográficas que o artista criou e tratou como tal. A arte contemporânea e os seus curadores, com a cega avidez de mostrar coisas novas, acaba por validar quase tudo como fotografia-arte o que, muitas vezes, leva o visitante a questionar-se se ele próprio não poderia também expor as suas fotografias de férias ou da comemoração do seu aniversário.
Foi em 1826, há precisamente 190 anos que o francês Joseph Niépce captou uma imagem na sua placa de estanho, produzida pelo seu processo heliográfico e que é hoje reconhecida como a primeira fotografia fixada de forma permanente. Posteriormente, ela passou em constantes evoluções, por Daguerre, por Hercules Florence, por Talbot, por George Eastman, havendo já uma forte preocupação artística em Henry Cartier Bresson, em Man Ray e Irving Penn, entre outros. Com a evolução das técnicas, das tecnologias, das câmaras digitais, dos programas específicos de sofware, a fotografia democratizou-se. Ela é produzida hoje com abastança, por muita gente mas, são muito poucos aqueles que, tirando proveito de toda essa evolução, a captam e a trabalham com preocupações criativas e estéticas, tendo estes o direito legítimo de ocupar um lugar nas páginas da história da arte contemporânea.
Pintomeira, embora tendo passado a maior parte do seu percurso trabalhando a pintura, quando empunhava a sua máquina fotográfica, carregava sempre consigo essas preocupações de ordem estética e artística. Tendo, durante a sua carreira, captado e produzido uma grande quantidade de fotografias, que muitas vezes serviam a sua pintura, só muito recentemente começou a expor esse seu trabalho. Como já referimos, as Novas Faces constituem a sua obra mais recente sendo, as faces femininas das modelos agenciadas, captadas no seu estúdio pela sua câmara DSLR com sensor de formato FX e com as objectivas apropriadas. Foram utilizados fundos brancos e pretos, flashes com softboxes octagonais e rectangulares, sombrinhas, beauty dish e reflectores. Obtida a imagem fotográfica segue-se a sua edição e pós processamento, utilizando os diversos programas de software. Uma vez trabalhada, essa imagem é impressa em papel de fotografia sendo este colado sobre uma placa de PVC. No atelier de pintura do artista vai acontecer a segunda fase de construção das Novas Faces. A superfície da fotografia é, de seguida, trabalhada com as técnicas da pintura de estilo abstracionista, com tinta acrílica, lápis grafite, pó de giz, areamento, drippings e gestualismo. Estas duas linguagens artísticas da pintura e da fotografia passam a coabitar o mesmo espaço, dialogam e interagem visualmente, permitindo ao espectador uma observação de um todo ligado e ao artista duas caminhadas distintas num todo comum.
Pintomeira fotografou e pintou, unindo as duas concepções estéticas na mesma área, sem conflitos nem interpretações dualistas.