Novas
Faces | Fotografia e Pintura num espaço comum
Pintomeira
é um artista figurativo, na pintura e na fotografia. A sua concepção é livre,
estando próxima do movimento da Nova Figuração que surgiu nas décadas de 60 e
de 70, como reacção ao abstracionismo e à arte minimalista e conceptual. Ele concentra-se,
maioritariamente, à volta da figura humana, sendo, a imagem da face corpórea, a
mais recorrente, como o demonstram os temas Faces e Outras Faces que, entre
2003 e 2010 fizeram parte do seu percurso de criação artística, estes no campo
da Pintura. Novas Faces é o se seu mais recente trabalho, construído à volta de
rostos de modelos femininos, fotografados no seu estúdio.
O seu
primeiro encontro com a fotografia aconteceu em Amesterdão, em 1977. Após o seu
abandono do curso de iniciação à realização cinematográfica, restou-lhe
a Fotografia. Das imagens em movimento com a cadencia padrão de 24 por segundo,
sobraram-lhe as imagens estáticas captadas pelo sensor da sua máquina
fotográfica. Sendo a pintura o seu trabalho primeiro e principal, a fotografia
situava-se num lugar complementariedade, servindo muitas vezes aquela. Mas, não
sempre. A fotografia foi, em determinados períodos, a sua manifestação
artística principal, monopolizando toda a sua atenção, em detrimento da
pintura. O seu trabalho mais recente está a preencher um desses períodos.
Neste
caso específico das Novas Faces que agora analisamos, estas duas linguagens,
fotografia e pintura, encontram-se e abraçam-se sobre o mesmo suporte para a
criação de uma nova expressão estética, o que demonstra, uma vez mais, a sua
obstinação pela procura da inovação que muito tem caracterizado todo o percurso
do artista. A imagem captada pelo sensor da sua camara DSLR e posteriormente
impressa sobre papel, não vai ser abordada como a fotografia convencional que é
de imediato colocada em moldura e pronta para ser exibida. A mostra de
fotografias em espaços expositivos está hoje muito generalizada. As vulgares
fotografias de família, de amigos, de férias e de viagem, onde a preocupação
artística e estética é secundarizada, ganharam o direito, mesmo assim, a marcar
presença nas paredes das salas de museus e galerias onde, muito raramente, encontramos
as autenticas obras de arte fotográficas que o artista criou e tratou como tal.
A arte contemporânea e os seus curadores, com a cega avidez de mostrar coisas
novas, acaba por validar quase tudo como fotografia-arte o que, muitas vezes, leva
o visitante a questionar-se se ele próprio não poderia também expor as suas
fotografias de férias ou da comemoração do seu aniversário.
Foi em
1826, há precisamente 190 anos que o francês Joseph Niépce captou uma imagem na
sua placa de estanho, produzida pelo seu processo heliográfico e que é hoje
reconhecida como a primeira fotografia fixada de forma permanente.
Posteriormente, ela passou em constantes evoluções, por Daguerre, por Hercules
Florence, por Talbot, por George Eastman, havendo já uma forte preocupação
artística em Henry Cartier Bresson, em Man Ray e Irving Penn, entre outros. Com
a evolução das técnicas, das tecnologias, das câmaras digitais, dos programas
específicos de sofware, a fotografia democratizou-se. Ela é produzida hoje com abastança,
por muita gente mas, são muito poucos aqueles que, tirando proveito de toda
essa evolução, a captam e a trabalham com preocupações criativas e estéticas, tendo
estes o direito legítimo de ocupar um lugar nas páginas da história da arte
contemporânea.
Pintomeira,
embora tendo passado a maior parte do seu percurso trabalhando a pintura,
quando empunhava a sua máquina fotográfica, carregava sempre consigo essas
preocupações de ordem estética e artística. Tendo, durante a sua carreira,
captado e produzido uma grande quantidade de fotografias, que muitas vezes
serviam a sua pintura, só muito recentemente começou a expor esse seu trabalho.
Como já referimos, as Novas Faces constituem a sua obra mais recente sendo, as
faces femininas das modelos agenciadas, captadas no seu estúdio pela sua câmara
DSLR com sensor de formato FX e com as objectivas apropriadas. Foram utilizados
fundos brancos e pretos, flashes com softboxes octagonais e rectangulares,
sombrinhas, beauty dish e reflectores. Obtida a imagem fotográfica segue-se a
sua edição e pós processamento, utilizando os diversos programas de software.
Uma vez trabalhada, essa imagem é impressa em papel de fotografia sendo este
colado sobre uma placa de PVC. No atelier de pintura do artista vai acontecer a
segunda fase de construção das Novas Faces. A superfície da fotografia é, de
seguida, trabalhada com as técnicas da pintura de estilo abstracionista, com
tinta acrílica, lápis grafite, pó de giz, areamento, drippings e gestualismo.
Estas duas linguagens artísticas da pintura e da fotografia passam a coabitar o
mesmo espaço, dialogam e interagem visualmente, permitindo ao espectador uma
observação de um todo ligado e ao artista duas caminhadas distintas num todo
comum.
Pintomeira
fotografou e pintou, unindo as duas concepções estéticas na mesma área, sem
conflitos nem interpretações dualistas.