2.7.20

 

Mário Miranda, o Escultor . Pintor

Pintomeira 2020

 


Mário Miranda

É muito provável que Mário Miranda, durante os seus tempos de berço, tenha tido a percepção dos cheiros dos óleos e da terebentina, uma vez que seu pai foi um conhecido pintor e um reputado restaurador de arte sacra. A sua apreensão das artes visuais foi precoce e a visão de um cavalete, um amontoado de tubos de óleo, pigmentos, pinceis e uma tela, nunca lhe pareceu uma miragem. Estando já familiarizado com todos esses materiais e transportando dentre de si o ADN da criatividade, só lhe faltava fazer o caminho, caminhando até ao encontro do seu atelier e iniciar os seus diálogos solitários com a tela.

Tendo feito a sua formação nesta área e já com algumas exposições no seu currículo, Mário Miranda decide percorrer e fazer mundo de experiências, de visitas e encontros com a arte, enriquecendo e amadurecendo o seu inato talento, carregando sempre, no alforge da sua mente, todos os materiais necessários para a feitura da sua obra prima.

Numa dessas viagens, Mário Miranda tomou a estrada do Norte e estacionou em Amesterdão, capital da Holanda. Eu já lá estava e o encontro era inevitável. Encontrei-o, em 1973, no seu atelier situado no edifício Kroombslot, próximo do Nieuwemarkt. Calmamente, ele debatia-se com uma tela colocada em cavalete, elaborando a figura, a forma e traços envolventes, em tons quentes e numa técnica sfumato ou mesmo chiaroscuro. A obra, muito trabalhada, ia nascendo através do uso de transparências e glacis. 

 

Amesterdão 1973 | Mário Miranda no atelier de Pintomeira tendo, à esquerda, a sua obra


Sempre muito introspectivo, profundamente enfeitiçado e capturado pelo que ia acontecendo na tela, numa labuta de pára e arranca de pinceladas abrangentes, a sua obra surgia aprazível na sua expressão estética e apropriava-se do seu próprio espaço.
Nessa sua primeira passagem por Amesterdão, na década de 1970, Mário Miranda fez, ainda parte do grupo “surreal maneirista”, de curta duração, apoiado num surrealismo tardio com as suas “maniere” pessoalizadas e que decidiu casar-se com o já secular maneirismo pós-renascença. O referido grupo, ao qual também pertenci e fui seu teorizador, reuniu jovens artistas imbuídos de um idealismo utópico, embora abraçando, convictamente, uma pintura figurativa, surrealizada e maneirista, com o propósito de se afastar e denunciar a fraudulenta e fingida arte conceptual que preponderava naquele tempo.

Na década de 1980, o autor regressa a Portugal. Desta vez, ele tomou a estrada do Sul e escolheu o Algarve para dar continuidade à sua obra. Aquela terra quente e luminosa poderia levá-lo a momentos de uma inspiração mais luzidia, revelando obras de forte e vibrante cromatismo, como aconteceu com Vincent Van Gogh, quando deixou Paris e partiu para Arles e Saint Remy, no sul da França.

Nada disso se verificou. Nas suas viagens pelo Alentejo, Mário Miranda encontrou o mármore nas minas de Estremoz, visitou o atelier do escultor João Cutileiro e regressou ao Algarve, já com uma nova linguagem plástica na sua mente. Encantado com aquela pedra de Estremoz, ele iria abandonar a pintura, tal como Michelangelo Buonarroti que, enfurecendo o papa Júlio II, abandonou, em certo momento, os trabalhos na Capela Sistina e partiu para onde gostava de estar, as minas de mármore em Carrara. Ao contrário de Michelangelo, Mário Miranda não conseguiu conciliar a pintura com a escultura.

 

Mário Miranda no seu Atelier


Esta última linguagem de expressão artística capturou-o, definitivamente, e a pedra mármore rendeu-se ao seu talento e entregou-se às suas mãos para se deixar esculpir.

O seu atelier, num Algarve cheio de luz, preparou-se para receber blocos de pedra vindos das minas alentejanas que, a partir da técnica da cinzelagem, iriam ser transformados, primeiro em peças planas de pequena dimensão com uma figuração de alto e baixo relevo, progredindo para trabalhos de tamanho médio caracterizados pela junção de pequenos blocos elaborados e de tons diferenciados, rumando mais tarde para obras monumentais e para a realização de esculturas públicas destinadas à requalificação e embelezamento de espaços urbanos. 

 

      Celeiro do Algarve | mármore e aço . 2003

Em Vila do Bispo, podem ser vistas algumas dessas esculturas monumentais encomendadas pela Câmara Municipal, destacando-se “O Homem do Mar” 1999, “O Celeiro do Algarve” de 2003 e “A Phoenix” de 2009.

Ao trocar as tintas, os pigmentos, os pincéis e as telas, pelo cinzel e o escopro, as máquinas de corte, perfuração e polimento, Mário Miranda passou a habitar espaços mais abertos e de distantes horizontes, mais ruidosos e empoeirados, num labor mais físico, desbastando a pedra bruta numa técnica de cinzelagem para criar uma forma tridimensional, um volume no espaço com valor estético na sua expressão plástica. As suas mãos pesadas e quase rudes acariciavam, agora, o mármore, a pedra e o aço, com sensibilidade e energia como antes usava o pincel e as tintas para preencher uma tela branca sedenta das suas visões e da sua imagética.

Mário Miranda, artista inovador e experimentalista, passou a construir, desde há algum tempo, uma escultura assemblage, de grandes dimensões. Acumula no seu atelier materiais diferenciados que, na execução do trabalho, os vai ordenando, incorporando, agregando até alcançar uma estrutura/escultura admirável e chamativa na sua forma estética e saída do seu imensurável imaginário.

Estas peças, embora monumentais transmitem, na sua estrutura, uma leveza e transparência que contrasta com as sólidas e corpulentas esculturas encomendadas para projectos de embelezamento urbano.

 

A Fiandeira . 2019 
 
Entre outras, destacamos a Fiandeira de 2019. Para a sua feitura o escultor reuniu no seu atelier peças, fragmentos e pedaços de reciclagem de diversos materiais, alguns encontrados no lixo e, desde a sua base até ao topo, os foi agregando, numa construção em espiral e num conceito mais racionalizado. Esta excelente obra parece homenagear a antiga fiandeira uma vez que o escultor lhe coloca uma coroa no seu topo como símbolo de glorificação pelo seu labor paciente, aturado e moroso, tal como Penélope, rainha de Ítaca, tecendo durante muitos anos a mesma peça, afastando assim outros pretendentes e esperando o seu Ulisses que iria regressar da Guerra de Troia, uma década após ter partido.

Afirmamos acima que Mário Miranda não conseguiu conciliar a pintura com a escultura. Tal facto aconteceu no início da década de 1980, quando se deixou seduzir pela pedra mármore de Estremoz e, abraçando a escultura, deixou para trás a pintura, linguagem plástica que abraçara até então.

No entanto, nos últimos anos o escultor regressou à pintura, naturalmente, sem espanto e sem receios já que, os cheiros dos óleos e da terebentina entranhados durante a infância, nunca se dissiparam da sua memória olfactiva.

Com o seu já declarado experimentalismo, Mário Miranda reencontrou a tela numa abordagem a que ele próprio denomina de expressionismo gestual.

Utilizando pigmentos naturais em base de acrílico, o artista consegue efeitos notáveis e únicos, transportando-nos para visões de antigos frescos, deteriorados pelo tempo. As transparências e a técnica glacis aparecem aqui mais relevadas, oferecendo-nos efeitos de alta qualidade, evidenciando um figurativo desbotado, por vezes indecifrável. 

 

Residencial Flamengo . 2017


Há uma negação das cores primárias, complementares ou frias, optando por tints e matizes em gradações da mesma cor, formando um cromatismo deslavado com valor técnico elevado e uma percepção visual aprazível.

Mário Miranda, o Escultor . Pintor, fazendo parte de um grupo de notáveis artistas não alinhados, alcançou uma obra conceituada e prestigiada que faz parte de inúmeras colecções públicas e privadas, com forte relevo para a escultura erigida em espaços urbanos ou inserida na natureza. Estas obras fazem hoje parte do desenvolvimento artístico da comunidade e do património cultural colectivo, convivendo com o indivíduo/cidadão e mantendo com ele um diálogo através dos tempos, para além do, não menos importante, embelezamento do espaço público urbano ou harmoniosamente integradas na natureza.

 

Este texto não segue o novo acordo ortográfico

Pintomeira 2020 

Artista Plástico | Ensaísta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O império de sinais | Pintomeira


Michael Amy, Ph.D.

Professor de História da Arte | Faculdade de arte e design

Universidade de Rochester

Rochester Institute of Technology, USA

 

Pintomeira tem vindo a produzir obras artísticas desde 1966, completando este ano meio século de actividade criativa na área das artes plásticas. Esta carreira, já longa e determinada a durar por muito mais tempo, não é de maneira alguma uma tarefa fácil no nosso mundo das artes, cada vez mais inconstante, seja qual for o padrão, e que tritura e deita fora os seus jovens artistas e também os não tão jovens – fazendo tudo isto com uma inusitada leviandade.

Alguns artistas começam e continuam ligados a um estilo e a uma imagética durante muito tempo ou, muitas vezes, durante toda a sua carreira, como são os casos dos proeminentes pintores abstratos americanos Agnes Martin e Robert Ryman. Outros artistas navegam de uma variedade de estilos e temas como fazem os virtuosos abstractos e figurativos, Jasper Johns, Gerhard Richter e Sigmar Polke, para citar apenas três mestres extradiordirarimente famosos e influentes.

Pintomeira foi sempre um inovador e agradavelmente eclético. Ele é um estudioso e, incentivado por uma constante curiosidade, deixa-se envolver com o velho e com o novo para, no fim, criar uma obra com o seu próprio cunho e assinatura.

Servindo de introdução, é importante fazer um breve resumo da carreira deste artista. Nascido na aldeia de Deocriste, em Viana do Castelo, Portugal, os talentos artísticos de Pintomeira foram, muito cedo, reconhecidos por alguns, incluindo a sua professora da instrução primária com o nome mágico de Belizanda, que o encorajou e só a ele, a desenhar no quadro preto da escola. O seu pai, contudo, tinha outros planos em mente para o seu filho que foi encaminhado, ainda criança, para o Seminário com a finalidade de seguir o sacerdócio. Alguns anos mais tarde e sem obter a permissão parental para o fazer, o futuro artista abandonou o Seminário e, no seu regresso a casa, foi acometido por uma verdadeira sensação de liberdade, nunca antes experienciada.

O Liceu, com as suas crescentes aflições, veio a seguir. Terminados os estudos secundários, o seu pai, querendo enviar o seu filho rebelde para a Faculdade de Arquitectura, talvez pensando que, uma vez que ele não quis seguir os ensinamentos cristãos para se formar sacerdote, poderia, agora, como arquitecto, edificar igrejas para os albergar.

O futuro artista, contudo, não querendo perder tanto tempo com os estudos e não se imaginando confortável na pele de um arquitecto, desobedeceu à autoridade parental uma vez mais, antevendo, em vez disso, uma carreira como realizador de cinema ou de artista plástico. Não sendo possível a primeira, por motivos financeiros, Pintomeira tomou em mãos o seu desígnio maior de se tornar um artista e assumir o seu lugar nos holofotes.

Após a sua primeira exposição que provou ser um sucesso, em 1966, Pintomeira embarcou no comboio para Lisboa, encontrando-se pela segunda vez numa viagem onde experienciou sensações de liberdade sem limites. Para ele, vindo de um ambiente rural, Lisboa era a capital das luzes, e o locus da vida moderna. Mal chegado à capital, encontrou um emprego, que abandonou seis meses mais tarde, não querendo conformar-se com as rígidas regras impostas pela sociedade. O livro On the Road de Kerouac transformou-se, para ele, numa influente narrativa de como viver a estrada da era pós nuclear.

 

EXTERIORS | acrylic on canvas | 140x160x4cm | 2012

Após uma tentativa falhada para deixar o seu país e partir para Londres ou Paris, a fim de estudar cinema, antes de cumprir o serviço militar obrigatório, Pintomeira costumava encontrar-se, no Café Brasileira, com alguns artistas do movimento surrealista português. O papel importante que as tertúlias e a cultura de café tiveram na evolução da arte moderna e no desenvolvimento de movimentos vanguardistas na Europa, nunca deve ser subestimado. 

Acompanhado por alguns dos seus amigos, o artista vivenciou aventuras pela estrada fora, sendo mais tarde detido pela polícia política portuguesa (PIDE) por suspeitas de envolvimento em actividades subversivas contra o regime ditatorial, suspeitas essas originadas em comportamentos de contracultura que, muitos jovens da sua geração, noutras partes do mundo, também tinham abraçado. Sendo libertado, após repetidos interrogatórios, e por falta de provas, e sendo considerado irrelevante o facto de trazer consigo livros de Sartre e Camus, e de ter no seu blusão de ganga inscrições de apelo à paz como Make Love Not War, Pintomeira foi obrigado a cumprir o serviço militar, sendo enviado para uma das colónias portuguesas em Africa, no year of living dangerously de 1968, em tempo de guerra. A Guiné acabou por ser um Inferno para o jovem, que rejeitava actos de colonialismo, de exploração e de agressão.

Ano e meio depois, uma vez libertado das suas obrigações militares, Pintomeira regressou a Lisboa, naquele momento, uma cidade equivalente, nos seus pensamentos, a um dia no Eden moderno, depois de ter passado mais do que Une Saison en Enfer do poeta simbolista Arthur Rimbaud, que era um favorito pessoal do artista.

Pintomeira ligou-se aos surrealistas em Lisboa, grupo que inspirou a sua expressão artística que ele iria desenvolver durante os anos de 1970. Assim como aconteceu com os Dadaístas e seguidamente com os Surrealistas, que reagiram às atrocidades da 1ª Guerra Mundial, o idealismo nos anos de 1970 era o de que, se o progresso conduz à tragédia que acabou por desencadear o despertar da 2ª Guerra Mundial, então Pintomeira e os seus colegas artistas deveriam abraçar o irracional, o mundo dos sonhos e do subconsciente.  O Surrealismo transmitia poder. Cumpria a promessa da imaginação sem fronteiras triunfando sobre a monótona e desinspirada realidade conformista.

 

Agora a liberdade chegou sob a forma de uma jovem holandesa chamada Marijke, que levou o artista, primeiro para Paris e depois para Amesterdão, onde ele iria ficar durante cerca de trinta anos.

Depois do seu trabalho ter sido exibido em algumas exposições em Paris, nos fins dos anos 70, Pintomeira abandonou manifestamente a sua ligação ao surrealismo, onde esteve entre 1970-1978, e enveredou pelo desenvolvimento das séries Paisagem (1982-1987) e Contornos (1990-1999). Entretanto, envolveu-se também na escrita (o que testemunha as suas publicações de High Noon in the Hot Summer, de 1981, e as Cartas Condenadas, de 1984) tendo acontecido o mesmo com os artistas surrealista da primeira vaga (Max Ernest, René Magritte e Salvador Dali), e de alguns artistas ligados ao grupo COBRA do pós guerra, movimento que Pintomeira frequentou, durante algum tempo, enquanto viveu em Amesterdão.

O contacto de Pintomeira com a arte e as ideias do grupo COBRA levou-o ao desenvolvimento da sua série Nova Linha (1999-2007). A sua arena de experiências, interacções e acções continuaram a expandir, desde que ele deixou a sua aldeia cujo nome nos leva a pensar como se fosse dedicada a Deus (Deo) e a seu Filho (Christe), Deocriste.

 

Em 1999, Pintomeira voltou para a bela aldeia da sua infância e para a casa dos seus pais a quem muitas vezes e produtivamente ele desobedeceu, uma casa com a pequena capela, na qual os seus progenitores esperavam, um dia, vê-lo a celebrar missa e na qual ele casou pela sua segunda vez, em 2007.

 

De regresso a Portugal, o artista prosseguiu o seu trabalho da série Nova Linha (1999-2007), que abriu caminho para a série Faces (2003-2010).

Na cidade de Braga, onde construiu o seu novo atelier e studio de fotografia, Pintomeira desenvolveu a série Interiores (2008-2011), as Outras Faces (2010), os Exteriores (2011-2012) as séries de fotografia Somewhere (2013-2014), juntamente com a Arte Digital (2009-2016), os Cutouts (2015-2016) e as Novas Faces (2016), passando do desenho para a pintura, para a fotografia, para a colagem, para as cerâmicas, e de volta a outras séries, conforme os seus criativos impulsos o conduzissem.

 

Este artista sempre inconformado, recusou sempre o estado de inactividade. Mudando de velocidades no seu modus operandi, Pintomeira simplesmente acumulou experiência em Lisboa, Guiné, Paris e Amesterdão. Ele precisa de processar uma vida cheia de ideias e sensações acumuladas. As suas metodologias criativas dão-lhe capacidades para o fazer, através da sua arte, enquanto continua a sua impressiva obra temática.

 

Neste ensaio, gostaria de me concentrar em duas séries da sua pintura que, por serem muito recentes, ainda não receberam a atenção devida. As pinturas que fazem parte da série Exteriores (2011-2012) fascinam-me, com a sua acumulação de sinais, as suas sugestões de um espaço tridimensional que é contraditado por outros motivos que enfatizam o plano, e a sua justaposição de figuras e níveis de abstracção. Observemos a pintura de 2011 mostrando um homem no primeiro plano, voltado de perfil para a direita, atravessando uma passadeira de peões e prestes a sair da pintura, uma vez que a ponta do sapato do seu pé direito dista somente alguns centímetros do limite direito do quadro.

 

EXTERIORS | acrylic on canvas | 100x90x4cm | 2012 | Private Collection

O homem, talvez de meia idade, vestido para o trabalho, uma vez que transporta uma pasta segurada pela sua mão direita. De chapéu, o homem preenche quase toda a altura do lado direito da pintura. Contudo, ele é-nos apresentado como uma uniforme silhueta preta, que aparece enfaticamente lisa, tão lisa como as listras brancas da passadeira, e tão lisa como os metálicos sinais rodoviários do plano central, dizendo-nos onde é proibido estar parado, e ordenando-nos a reduzir a velocidade para 30 quilómetros hora.

 

O uso das silhuetas pretas e enfaticamente planas pode levar-nos à obra La feuille de vinhe (óleo sobre tela, 1922, Tate Modern, Londres) de Francis Picabia, a Dresseur d’animaux (tinta Ripolin sobre tela,1923, Centre George Pompidou, Paris), e La nuit espagnole (esmalte sobre tela, 1922, Museum Ludwig, Colónia). O último quadro inclui dois alvos, que são mais ou menos análogos aos sinais de tráfego em forma de disco como na pintura de Pintomeira. As silhuetas pretas nos três Picabias tem precedentes no corte de silhuetas de papel produzidos pelos artesãos e amadores antes do século XX (e revisitados com sucesso pela artista americana Kara Walker nos fins do século XX, e ainda brilhantemente minada por ela, como acontece com estes escritos.

As características formais de papeis cortados foram introduzidos nas práticas vanguardistas por George Braque, nos seus papier collés (papeis colados), e que ajudaram Picasso e ele próprio a desenvolver a pintura do Cubismo Sintético (que apareceu no despertar do Cubismo Analítico), e que influenciou profundamente as séries Exteriores e Interiores de Pintomeira.

 

Mas voltemos ao quadro acima mencionado de 2011. A parte superior da pasta do homem é trabalhada em perspectiva, sendo dada à sua pega uma certa fisicalidade. Isso faz com que projetemos um maior volume no próprio homem, começando talvez nos seus sapatos, um dos quais está quase completamente levantado do chão e lança uma sombra aparentemente vaporosa numa das listras da passadeira. As três listras beges da passadeira no primeiro plano até ao plano central, e praticamente no ângulo direito do fundo, quase como uma prancha de mergulho sobre a piscina, ou como a prancha que se estende para além da parte lateral do navio onde os piratas obrigavam os seus prisioneiros a descer, até caírem dentro do mar ou oceano, afogando-se e sendo devorados pelos tubarões, isto é o que Hollywood nos mostra. 

 

O asfalto sobre o qual estão pintadas as listras das passadeiras constituem mais do que uma longa faixa horizontal, sendo a sua superfície de cor cinza executada sem interrupção até ao topo do quadro e nos dois terços da parte superior da pintura em toda a sua largura. Por outras palavras, ele também se converte numa planura, e está lá como se fosse o céu ou as paredes a primeira leitura ajuda a justificar a prancha de mergulho, analogia de um navio de piratas.

As listras da passadeira, subindo em perspectiva e atingindo o plano central, enfatizam conceptualmente o horizontal, enquanto os sinais da estrada acima mencionados, colocados paralelamente ao plano de imagens enfatizam o vertical. No entanto, a ambiguidade adicional é introduzida por uma longa seta branca igual aquela que é pintada no asfalto para nos informar que nos encontramos numa faixa em que os veículos tem que virar ou à direita ou esquerda sobre um dos sinais metálicos de trânsito.

No entanto, aqueles sinais de trânsito não são de metal. Eles são construídos de tinta. E, obviamente, não há aqui nenhum asfalto. Em vez disso, há simplesmente uma pintura sobre tela. Adicionalmente, não há nenhum homem que caminha em perfil para a direita. No seu lugar, há apenas um material de pintura oleoso que pintou esta superfície imaginada. Encontramo-nos, aqui, num império de sinais. 

Os sinais são importantes, é verdade. Podemos comunicar intenções através deles e somos quase perpetuamente confrontados com eles e pelas suas interpretações.

Ao longo dos anos, aprendemos a compreender a maioria dos sinais à nossa volta, mas as dificuldades abundam, erros ocorrem, e acidentes acontecem. Quando não os vemos ou os interpretamos mal poderemos ir parar a um hospital ou pior ainda, acabar na morgue. Pintomeira lembra-nos que a pintura é uma linguagem, sujeita a um conjunto de interpretações potencialmente corretas ou incorretas. 

 

Noutra foto da série Exteriors, vemos duas mulheres a atravessar uma rua numa passadeira de peões, com os seus corpos colocados quase em primeiro plano, e dramaticamente cortados acima dos seus ombros pelo limite superior do quadro. A mulher da esquerda usa meias amarelas escuras e a outra do lado direito usa meias de cor violeta. Estas senhoras vestem de preto,  é o que podemos dizer, já que as suas cabeças e os seus ombros encontram-se fora dos limites da pintura usando uma um vestido e a outra uma saia, cobrindo praticamente os seus joelhos. Ambas usam sapatos pretos de salto alto.

 

EXTERIORS | acrylic on canvas | 165x185x4cm | 2012

No caso de uma pintura analisada anteriormente, aqui o assunto é também sobre o caminhar, o passear como acontece nas cidades com a sua multiplicidade de sinais e indicações. Aqui também, há movimento e imobilidade e, neste último, estão implícitos os estáticos sinais rodoviários no plano central, avisando-nos para mudar de sentido e reduzir a velocidade, o que está na maior parte das vezes pintado em formas cinzentas sobre fundo cinza escuro. Uma vez mais, vectores horizontais e verticais fundem-se com o chão que as mulheres atravessam e que está alinhado com os seus corpos lisos e de perfil. 

 

A mulher à esquerda com as meias amarelas leva à trela um cão de tamanho médio, um cão preto, igualmente plano como a superfície da sua roupa preta. O motivo do cão preto levado pela trela da mulher, dramaticamente cortada, usando um vestido preto, pode ser relacionado com a sobejamente conhecida pintura, Dinamismo de um cão à trela (óleo sobre tela, 1912, Albert-Knox Art Gallery, Bufalo) do futurista italiano Giacomo Balla. Comparada com este quadro, a pintura de Pintomeira parece calma, imponente e requintadamente equilibrada. A sua gama de cinzentos, por outro lado, lembra-nos os cinzas no trabalho de Jasper Johns, cuja obra também nos vem à mente quando vemos o padrão de círculos finos subindo desde o fundo central até ao canto superior esquerdo, o sinal em forma de disco (referindo a pintura de Jasper Johns), as setas, os números e os sinais de rua drenados nas suas cores. Johns pintou um alvo verde, muito conhecido, rodeado por terra verde, um quadro mostrando uma bandeira branca dos U.S. ocupando totalmente a área da tela. A introdução da superfície feita de sinais na pintura moderna é atribuída a Braque e Picasso, e prosseguida pouco tempo depois, no emblemático abstracto Retrato de um Oficial Alemão de 1944 (Metropolitan Museum of Modern Art, New York), com origens do Cubismo Sintético, em cuja pintura podemos ver motivos em forma de disco e números. Pintomeira, um artista figurativo, tem um maravilhoso sentido para a natureza abstracta das aparências.

 

Os Interiores (2008-2011) de Pintomeira misturam o pós-cubista Fernand Léger com a britânica e a americana Pop. Um dos mais impressionantes Interiores (2009), na minha opinião, é o que apresenta uma mulher sentada a uma mesa azul, lisa, em primeiro plano e em perfil, voltada para a direita, como se ela estivesse a entabular uma conversação com alguém, embora a cadeira do outro lado se encontre vazia.

 A mão esquerda da jovem mulher está levantada e encostada ao seu queixo e à sua face, numa atitude de pensamento. Uma bolha de pensamento, próxima e desenhada com traços, aparece um pouco elevada próxima do centro da pintura, que está vazia recusando, por esse modo, compartilhar o que a jovem mulher está a pensar ou a sentir; ou, estará ela a pensar ou a sentir alguma coisa?  O cinzento do papel de parede com linhas verticais oferece um leve contraste com o cinzento escuro da carpet em baixo e que fica distanciada da parede por um bege rodapé. Pintomeira trabalha melhor, segundo minha opinião, quando ele introduz a austeridade clássica. Esta é outra composição elegantemente equilibrada envolvendo níveis de realidade.

 

INTERIORS | acrylic on canvas | 140x160x4cm | 2011 | Private Collection 

Noutro Interior de 2009, que namora com a publicidade e o design, uma mulher jovem está, uma vez mais, sentada e sozinha. Aqui, a cor dominante é o vermelho, com a jovem sentada atrás de uma grande mesa situada em primeiro plano, em frente a uma parede coberta de papel vermelho com linhas verticais e, um pouco afastados do espectador, dois grandes livros vermelhos colocados sobre a mesa, um em cima do outro. A mulher, aqui representada a partir do seu busto com as suas mãos levantadas até à sua face, encontra-se perdida nos seus pensamentos. Uma janela, com vidraças vermelhas e opacas, e com caixilhos brancos está colocada atrás dela. Comparando com a pintura analisada anteriormente, aqui também um candeeiro de sala interpreta um papel importante, talvez, quem sabe, substituindo a pessoa que está ausente, e que provavelmente ocupa os pensamentos da jovem mulher.

 

  
    
INTERIORS | acrylic on canvas | 160x140x4cm | 2011

Duas formas fechadas construídas de traços aparecem atrás do candeeiro e em frente do papel de parede, introduzindo uma nota de mistério dentro de um contexto de normalidade. A silhueta curvilínea da mulher entra em contraste com a janela rectilínea, e o rectangulo de uma das vidraças vermelhas é reflectido em terceira dimensão pelo que poderia ser um vermelho vaso rectangular colocado sobre a mesa, sem flores, da mesma maneira que as janelas não oferecem alguma vista, e assim como eu pensei, as bolhas de pensamento estão vazias. Esta também é uma pintura sobre a melancolia, uma representação de um tema secular da pensativa Maria Madalena?

Fazendo cinquenta anos de carreira artística, Pintomeira continua a deliciar-nos, arrancando novas ideias do seu alforje preenchido com as suas próprias visões idiossincráticas sobre a arte e sobre a vida. Pintomeira faz parte de uma linha de notáveis artistas camaleões, que mudam em função das situações e que continuam em constante movimento.


Esta tradução para português não segue o novo acordo ortográfico.

 

Michael Amy, Ph.D.

Professor do Colégio d’Historia de Arte

Imagens de arte & ciências

Rochester Instituto de Tecnologia, USA


 ver original inglês em: Press 

pintomeiragallery.com 

2.2.20



                          O caminho para o mundo da arte


Pintomeira
Nascido em Deucriste, concelho de Viana do Castelo. Uma pequena aldeia construída em anfiteatro natural, estendendo-se  desde o vale das suas veigas e vinhedos até à meia encosta  do Monte Crasto, de onde  se contempla o derradeiro troço do rio Lima e a sua foz, em Viana. 
As suas origens provêm, por um lado, de proprietários rurais relativamente abastados, e por outro, de uma fidalguia, já então, em franca decadência.
 
Na escola primária, Pintomeira interrogava-se por que razão a sua professora, de nome Belizanda, lhe pedia, sempre a ele, para desenhar no quadro preto, a igreja da sua aldeia. Tem, também, na memória o tempo que ocupava a tentar desenhar, com os chamados lápis de pau, os retratos das suas irmãs, e o fascínio e excitação que sentiu quando recebeu a primeira caixa com lápis de cor, imaginando os desenhos que poderia fazer com tudo aquilo. Teria, então, oito, nove anos.
Capela na casa de família | Deucriste

Os seus pais, uma vez feita a instrução primária, já tinham, pressentia ele, pensado o seu destino. Seria o Seminário e o sacerdócio. Sendo eles profundamente religiosos praticantes do catolicismo, e como existe uma capela na sua casa de família, penso que gostariam de ver, no futuro, o filho padre a celebrar missa, intra-muros.
Assim aconteceu. Em Outubro de 1957, ainda criança, entrou no Seminário Menor de Braga. Pela primeira vez, à noite, Pintomeira encontrava-se a dormir num lugar estranho e, também pela primeira vez, encontrava-se sem a protecção dos seus pais. Aquela inquietante estranheza inicial transformou-se, com o passar do tempo, numa convivência salutar e amical entre os restantes colegas. Conduzidos por regras austeras, muito próprias de um regime de internato numa Instituição Católica, a oração e o estudo preenchiam a maior parte do tempo, o que acabaria por inculcar para a sua vida, o método e a disciplina mental. Mas, uma vez que a vocação para o sacerdócio não vivia dentro de si, e sabendo da existência de um outro mundo lá fora, a permanência no Seminário não iria ser  longa. A rebeldia, o inconformismo e a ânsia de plena liberdade, atributos  que irão  caracterizar toda a sua vida, fizeram com que, no primeiro período do quinto ano, em Dezembro de 1961, ele tomasse a sua primeira grande decisão: abandonar o Seminário. Apesar dos conselhos insistentes do Reitor para que reconsiderasse essa sua vontade, dizendo-lhe que a vocação iria voltar ainda mais forte, a sua determinação estava tomada e era irreversível.
Seminário Maior | Braga

Juntou os poucos haveres na sua pequena mala, atravessou a enorme porta do Seminário Maior e, de repente, encontrava-se a descer, sozinho, a rua de Santa Margarida. Apanhou a camioneta de carreira de regresso a casa, em Deucriste. Durante a viagem, sentiu algo tão agradável e tão excitante, a que hoje chama liberdade, que não conseguiu sequer imaginar o enorme desgosto que iria dar aos seus pais e o consequente castigo que lhe iria ser imposto. E assim aconteceu: o desgosto e o castigo. No entanto, passadas algumas semanas, uma carta, enviada pelo Reitor do Seminário, transformou-se num bálsamo para o desgosto e na revogação do seu castigo. A carta informava o seu pai que ele, não tendo vocação para o sacerdócio, deveria continuar os estudos. Passados dois meses, tudo se recompôs: iria prosseguir os estudos no Colégio do Minho e, depois, no Liceu de Santa Maria Maior, em Viana.


Liceu de Santa Maria Maior | Viana  
As normas e as regras incutidas
e trazidas do Seminário permitiram uma passagem pelo Colégio, calma e sem agitações. No Liceu, tudo mudou. As animadas tertúlias nocturnas sobre cinema, teatro e literatura com o António Sales, o Adelino Ramos e o Galeão, e a irreverência, a contestação e a rebeldia, tão próprias de alguns jovens dos anos sessenta, trouxeram-lhe alguns dissabores: suspensões, castigos e uma reprovação.
Acabado o curso liceal, uma vez mais, o seu destino já tinha sido pensado pelo seu pai. A Universidade do Porto iria aprisioná-lo durante os próximos anos, a caminho de uma formação em Arquitectura. No entanto, durante o Liceu, já outras paixões tinham germinado dentro de si: o Cinema, como realizador, e as Artes Plásticas. Como nenhum estudo, nestas áreas, tinha a aprovação dos seus pais, a desobediência à vontade paternal voltou a acontecer. A formação em Arquitectura ficou, definitivamente, para trás e em Janeiro de 1967, deixou a sua casa de família, a sua aldeia construída em anfiteatro, a cidade da sua adolescência, e partiu para Lisboa.
Levava consigo o estímulo e o impulso gerados pela exposição realizada em 1966 na, então existente, Galeria da Livraria Divulgação, em Viana. Ainda inseguro, mas determinado, decidiu mostrar ao público, pela primeira vez, um conjunto de desenhos, guaches e tintas da china. Constatando a elevada presença de visitantes e o interesse que a mostra neles despertou, aquela pequena e tímida experiência transformou-se no seu grande desígnio: uma forte determinação para seguir uma carreira no mundo das artes.
A longa viagem de comboio até Lisboa ofereceu-lhe, de novo, uma inebriante sensação de liberdade, e a sua bagagem era um enorme baú cheio de sonhos. O mundo parecia estar todo na palma das suas mãos e tudo aparentava estar ao seu alcance. Havia a consciência de algumas incertezas mas, paradoxalmente, tudo lhe despertava entusiasmo e arrebatamento. Finalmente, sentia-se ao leme da sua vida e acreditava que ela estava a desenhar os melhores planos para o seu futuro.
A chegada à estação de Santa Apolónia e o trajecto percorrido de eléctrico até à zona da Estefânia, transformaram-se numa experiência de enorme fascinação, de puro deslumbramento.
O eléctrico na noite de Lisboa
Era já de noite. Todos aqueles neons ofereciam uma paisagem urbana cheia de encantamento. Pintomeira, o rapaz saído daquela pequena aldeia e de uma pequena cidade do norte do país, chegava, agora, ao grande mundo e sentia que o Cinema e a Pintura moravam, ali, naquele lugar iluminado. Entretanto, um emprego como inspector tributário estagiário na Direcção de Finanças, acompanhando a verificação das contas das empresas sediadas na Costa do Sol, entre Oeiras e Cascais, ajudava a manter uma vida independente. Passados seis meses e, não querendo acatar uma ordem vinda da Direcção para adoptar uma imagem mais condizente com a sua função, decidiu pedir a demissão. Tal decisão, naquele tempo, era o reflexo de uma tomada de posição anti establishement, anti statu quo e de não adaptação às regras. Era a procura de uma liberdade pessoal, que alguns jovens da sua geração lutavam para conquistar. Sabendo que eram diferentes, queriam fazer diferente. Era uma geração anticonformista, da contracultura, fortemente influenciada pelos escritos da beat generation, mais concretamente pelo livro On the Road de Jack Kerouac.
         
Livro "On the Road" | Jack Kerouac
Mais ou menos na mesma época, Bob Dylan escrevia e cantava The Times They Are a-Changin': "... ouçam mães e pais, através de todo o país, não critiquem aquilo que não conseguem compreender; os vossos filhos e as vossas filhas já não entendem as vossas ordens e a vossa velha estrada está a cair rapidamente em desuso; por favor não perturbem o novo caminho se não o conseguem caminhar; os tempos estão a mudar."  E tudo mudava rapidamente. O pedido de demissão acima referido foi também motivado pelo desígnio fundamental que transportava consigo: a Pintura e o Cinema que continuavam bem vivos dentro do seu baú de viagem. Naquele tempo, 1967, dizia-se em Lisboa que, estudar Cinema teria de acontecer em Londres, na London Film School ou em Paris, no IDHEC (Institut des Hautes Études Cinématographiques). Estando vedada a obtenção de um passaporte e a consequente proibição de sair do país por não haver, ainda, cumprido o serviço militar obrigatório, e após uma tentativa fracassada de saída clandestina, os estudos em Cinema ficavam, assim, adiados. A Pintura ficaria em Lisboa. E ele também. Entre 1967 e 1972, os encontros no café Brasileira, o convívio com alguns artistas do movimento surrealista português, Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, Raul Perez, Fernanda Assis e outros, as exposições inconformistas nos largos passeios do Rossio, o atelier colectivo na Mouraria, as conversas literárias e libertinas com Luís Pacheco nas tabernas da baixa de Lisboa, e as noites de tertúlia e boémia no Botequim de Natália Correia são, agora, lembranças que trazem alguma nostalgia.
Café Brasileira | Lisboa
Em Maio de 1967, querendo vivenciar o seu "Pela Estrada Fora" (On the Road), ele e mais três amigos saíram de Lisboa, de mochila às costas e à boleia, decididos a percorrer, sem qualquer plano preconcebido, o maior número de quilómetros pelas estradas do país. Era a procura da liberdade, da natureza, do improviso, da aventura no asfalto, apoiadas na prática da amizade e da solidariedade. Na sua bagagem encontravam-se alguns livros, material de desenho e um gira-discos portátil. Na roupa tinha inscrições de apelo à paz (Paix au Vietnam e Make Love Not War), uma causa que sensibilizava muitos jovens naquele tempo de guerras: a do Vietnam e a guerra colonial. Foram estas pacíficas palavras inscritas nas costas do seu blusão de ganga, que vieram a suscitar suspeitas de teor político. Após algum tempo de vibrantes aventuras, chegava, agora, um período de escuridão causado por uma curta, mas sinistra, detenção pela PIDE de Coimbra, juntamente com os seus amigos, por suspeita de actividades subversivas contra a segurança do regime dictatorial em vigor.
Houve interrogatórios assustadores feitos por um tenebroso inspector. Houve ameaças de tortura, humilhações, mas nada acabaria por ser provado.  No auto de libertação (Torre do Tombo), pode ler-se: “Em face dos autos, verifica-se a falta de fundamento da suspeita de actividades subversivas inicialmente alimentada contra os detidos, que, apenas, se alicerçava no seu procedimento um tanto estranho e nas pregadeiras com inscrições de apelo à paz, bem como nos desenhos feitos num bloco de apontamentos, representando um deles, da autoria de A. Pinto Meira, dois nus, um agrilhoado, com os dizeres nous ne sommes pas libres”.
PIDE | Coimbra 1967
Na verdade, pode considerar-se aceitável a explicação apresentada pelos acusados nos interrogatórios a que foram submetidos, na medida em que o seu comportamento traduzirá um estado de espírito, uma mentalidade, uma forma de sentir não muito raras em outros jovens que pretendem fazer-se notados pelas suas extravagâncias. Nestas circunstâncias, restituam-se à liberdade e
arquivem-se os autos (29 de Maio de 1967). Todos os desenhos que ele havia feito durante a viagem e os livros que trazia consigo (Albert Camus, Arthur Rimbaud, Jack Kerouac, Jean-Paul Sartre) não lhe foram restituídos, sendo confiscados ou, provavelmente, destruídos pela PIDE.
Pintomeira e os seus companheiros do asfalto estavam de regresso à estrada. Mas, esse asfalto que simbolizava liberdade e aventura, foi sol de pouca dura. Passados alguns meses, a entrada obrigatória, em Mafra, para o curso de oficiais milicianos e, findo este, a subsequente partida, como alferes, para a guerra colonial, em Novembro de 1968, adiavam, agora, com muitas incertezas, a Pintura e o Cinema. A Guiné, e o seu interior mais remoto, num local chamado Piche, foi o seu destino pavoroso e dantesco, o seu pequeno Vietnam. Em Março de 1970, após dezoito meses de serviço militar cumprido em África, ele, são e salvo, estava de regresso a Lisboa com quem selou uma paixão até ao fim dos seus dias. Revisitou essa sua cidade e reencontrou alguns amigos. A outros perdeu-lhes o rasto.
Guiné Bissau | Guerra Colonial 1969
O tempo passado entre Mafra e a selva africana, marcou um período perdido, um espaço de poucas memórias, talvez inútil, por nunca ter sido sua escolha. Ficou como um interregno imposto, involuntário, do seu caminho no mundo artístico. Após algum tempo de adaptação, pude concluir que essa indesejada participação na guerra colonial, não tinha provocado, em si, qualquer transtorno. Estava pronto para reiniciar um percurso que, de certa maneira, esteve suspenso.
 Atelier em Amesterdão  | Oud Zuid 1973
Marquou o reencontro com a Pintura. A ligação a alguns artistas do movimento surrealista português deixou influências e marcou o seu caminho na década de setenta. Embora sabendo que o surrealismo já não se encontrava inserido no contexto das vanguardas, não quis deixar de explorar, na prática, a formulação do Manifesto Surrealista de André Breton (Paris 1924),  
chamado automatismo psíquico: "estado puro, mediante o qual se propõe transmitir verbalmente, por escrito, ou por qualquer outro meio o funcionamento do pensamento livre de qualquer controlo exercido pela razão ou qualquer preocupação estética ou moral".
Após algumas exposições, senti que, desta vez, os seus sonhos se tinham tornado maiores do que a própria vida, sendo o seu país demasiado sufocado, fechado e pequeno para os abarcar.  Decidiu deixar Lisboa e Portugal.
 
No verão de 1971, Marijke, a linda holandesa de olhos muito azuis apareceu, assim inesperadamente, olhando alguns desenhos que ele expunha, junto a uma praia chamada Cabedelo. Ela decidiu ficar consigo.
Rapidamente ela apreendeu o pulsar da sua inquietude e sentiu a sua enorme vontade de percorrer uma estrada muito mais longa e mais aberta. E a sua vida, ao lado dela, iria tomar um rumo, para sempre irreversível. Em fins de 1972, partiram para Paris, onde ela iria terminar os estudos na Sorbonne. Após uma curta estada na capital francesa, chegaram, finalmente, a Amesterdão. Era ali que Pintomeira iria permanecer, por muitos anos. Era a sua cidade, o seu céu aberto onde, naquele tempo, tudo parecia acontecer e tudo parecia ser permitido. Em 1976, Pintomeira e Marijke casaram.
Todo o seu trabalho surrealista foi produzido no atelier, anexo à casa que ambos habitavam, na Cornelis Anthoniszstraat, Oud Zuid. Ela seguiu e estimulou a realização dessa obra, sendo modelo, em alguns desses trabalhos. Entretanto, o curso de realização de Cinema na Nederlandse Filmeacademie era, agora, uma possibilidade. Mas, não aconteceu. A Pintura que estava já a fazer o seu caminho e que estava ali, mais próxima e esperando o reencontro, venceu o Cinema.
 
CREA Universiteit van Amsterdam UvA | Amesterdão 1977   
 
Decidiu frequentar o CREA | Cultureel Studentencentrum van de Universiteit van Amsterdam (1977-1980) e estudar Pintura.
Paralelamente, também, no CREA, um pequeno curso e um curto filme realizado por todos os alunos, serviu para a sua despedida definitiva do Cinema, podendo, assim, dedicar todo o tempo às artes plásticas.
Toda essa labuta criativa iria acontecer num novo atelier na Daniel Stalpertstraat, Oud Pijp, o seu lugar  dos encontros e diálogos solitários entre si e a tela.  Situava-se muito próximo da Museumplein, esse imenso céu aberto circundado pelo Rijksmuseum, o Stedelijk Museum e o Van Gogh Museum, recheados de centenas de obras primas que ele, frequentemente, visitava para receber influências e estímulos.
 
 Atelier em Amesterdão  |  Oud Pijp 1983

Numa das Cartas Condenadas publicada na revista literária Vertical (Círculo de Cultura Portuguesa), em Amesterdão, ele escrevia: "Eis-me, sublime, de torneira redondamente aberta jorrando beleza curvilínea e revolta em espiral para o espaço da criação, em pinceladas de exaltação oval. ...assim, suprimo a névoa e ilumino o espaço entre mim e o cândido linho, para sentir o labor do pincel, o aroma do pigmento, no êxtase da forma e da cor". 

Após algumas exposições na Holanda, realizou, em 1978, a sua primeira exposição em Paris, na Galerie Entremonde, ainda com a assinatura de Pintorosha.
 
Cartaz da Exposição na Galerie Entremonde | Paris 1978



No mesmo ano, participou no "Salon 1978", realizado no Grand Palais des Champs-Elysées, também em Paris.
Após este Salon, chamado "Metamorphoses," e levado a cabo pela Société des Artistes Français, homenageando o surrelista belga René Magritte, decidiu que o seu período dedicado ao Surrealismo (década1970), tinha acabado a sua viagem. Ela começou em Lisboa, mas,  foi em Paris, através de um contacto mais próximo com a obra de René Magritte e Paul Delvaux do surrealismo belga, e em Amesterdão, com o mágico realismo de Carel Willink e Peter Koch que determinou a sua permanência, durante os restantes anos da década de setenta, na exploração do mundo onírico e do inconsciente. Entre 1972 e 1978 fervilhavam, em Amesterdão, várias correntes vanguardistas (art conceptual, minimal, land, povera, performances e o hiperrealismo). Com alguma frequência, assistia, no Stedelijk Museum (Museu de Arte Moderna), a inaugurações de mostras de artistas destes movimentos, no entanto, Pintomeira continuava a explorar, convictamente, o surrealismo, mesmo sabendo que ele nunca foi muito popular no meio artístico da capital holandesa.
 
Livro 1972  . 1995 | 45 páginas

Depois, houve um passeio pela Paisagem (década1980), um exercício inesperado traduzido num experimentalismo apoiado em fotografias trazidas para o seu atelier, após uma visita ao Alentejo. A composição é minimalista  depurada onde os elementos típicos da paisagem como árvores, animais, casas e rios, estão ausentes. Encontram-se enfatizados o espaço, a profundidade, a lonjura, a planura e o cromatismo. 
Não querendo percorrer o caminho do rebanho instalado num sistema enganoso e especulativo dos anos oitenta e desagradado com o filistinismo de galeristas, curadores  e directores artísticos que baptizavam no deserto a chamada arte contemporânea,  o seu trabalho seguiu o trilho do experimentalismo nas áreas do desenho a aguada e pó de grafite, serigrafia monotípia, feitura de posters de cinema e  na área da fotografia. 
Seguiu-se a série Contornos (década1990), um dos temas mais inovadores e mais envolventes da sua carreira artística. Sobre este tema, citamos, aqui, a apreciação de Hendrik Kramer, no seu texto escrito no catálogo Temáticas 2002-2020"...os  contornos tornaram-se mais largos, multiplicaram-se e alongaram-se, ultrapassando a fronteira do seu propósito convencional e passaram a construir um espaço, agora notório e impositivo"
 
Contornos | Livro . 80 páginas

As influências do grupo CoBrA ( grupo de artistas de Copenhagen, Bruxelas e Amsterdam) levaram o autor à produção do tema Nova Linha (décadas 1990 e 2000). Relevamos, aqui, o convívio com Corneille, elemento destacado do grupo CoBrA que, embora tendo sido curto, foi suficiente para, a partir das suas influências, construir, durante um longo período, um vasto conjunto de trabalhos que fazem parte do tema Nova Linha.
Ele apresenta abordagens estéticas e formais muito próximas de alguns trabalhos do grupo CoBrA, onde imperam a espontaneidade, a criatividade infantil e o seu cromatismo, as manifestações da arte primitiva e algumas influências do surrealismo.
 
Nova Linha | Livro . 100 páginas
 


Houve, durante esse período, como já foi referido, muitos trabalhos em fotografia, desenho, serigrafia monotípia e a feitura de posters de cinema. Houve uma pequena incursão literária na área da escrita, que resultou na publicação de High noon in the hot summer, Cartas Condenadas e um amontoado de manuscritos não publicados. Foram, também, realizadas várias exposições e a participação em feiras de arte e bienais.
Houve, também em Amesterdão, a amizade, a convivência e as influências de artistas, escritores e poetas como Carel Willink, Corneille, Herman Brood, Rob Scholte, Max Schreuder-Pilawski, Adriaan Walwijk, Maria Esmeralda Mendes, Maria Beatriz, Mila V. Paletti, António Cabeça, Mário Miranda, August Willemsen, Fernando Venâncio e Rentes de Carvalho, entre outros.
 
Catálogo | Retrospectiva 1970 . 2005 | 30 páginas

Durante todo esse tempo, a sua vida pessoal teve períodos de encontros e desencontros. Em 1979, Pintomeira e  Marijke optaram pelo divórcio. A Cláudia, vinda da Austria, foi a sua adorável companheira de aventuras e viagens. A Ria, a bela holandesa, de quem ele tantas vezes desenhou o retrato, foi uma grande paixão. Em 1984, Pintomeira e a Ruth, a poetisa e encantadora “amsterdammer,” encontraram-se. Aconteceu na vernissage da exposição colectiva “Veins” em Amesterdão. Sairam, jantaram juntos e, nos próximos quinze anos, nunca mais se separaram. Ela foi a sua companheira inspiradora que o acompanhou e assistiu na construção e produção de muitos trabalhos e na realização de muitas exposições na Europa.
Catálogo | 40 páginas

Passaram quase trinta anos desde a sua chegada à Holanda, naquele frio Novembro de 1972. Esse período vivido na sua irreverente Amesterdão, estava a chegar ao seu termo. Tudo teria sido muito diferente se, em 1972, ele não tivesse decidido deixar Portugal e acompanhado a linda holandesa de olhos muito azuis, a caminho de Paris e Amesterdão. A sua evolução artística e cultural foi mais cheia, mais inteira. Tendo a sua integração na sociedade e na cultura holandesa sido muito rápida por via do seu casamento com a Marijke, os seus contactos e a sua participação na cena artística de Amesterdão foi, também por isso, mais facilitada. A aprendizagem e as influências vindas desses contactos estão bem patentes em muitos dos seus trabalhos.
Em fins de 1999, aconteceu o seu regresso a Portugal, àquela linda aldeia da sua infância, construída em anfiteatro.
Catálogo | 68 páginas
De novo, cheguou a casa dos seus pais a quem ele tantas vezes desobedecei, para seguir o caminho que a sua vida tinha pensado para si. Herdou a casa de família, hoje Casa da Colunata, e um atelier construído no piso térreo permitiu a continuidade do seu trabalho criativo. O tema Nova Linha, trazido de Amesterdão, adaptou-se a outro clima e permaneceu durante alguns anos. Seguiu-se o tema Faces (década 2000) que, ainda hoje, vai fazendo parte do seu trabalho.
Catálogo | 60 páginas
Para além dos acrílicos e técnica mista sobre tela, foi produzida, paralelamente, uma vasta quantidade de trabalhos sobre papel e cerâmica.
Chegou 2007. A sua vida iria, uma vez mais, tomar um novo rumo. Pintomeira e a doce Tuxa casaram. Aconteceu na pequena capela da sua casa, onde os seus queridos pais, num passado, já longínquo, sonharam ver o filho celebrar missa. Nesse dia, a missa de casamento foi celebrada pelo seu neto, Padre José Domingos Meira, e eles foram lembrados. Entretanto, o seu atelier em Deucriste transformou-se na sua galeria de arte. A cidade de Braga iria ser, ao lado da Tuxa, o lugar do início de um novo ciclo no seu percurso artístico.
Atelier | Braga

Um oitavo andar, cheio de luz, foi remodelado e passou a ser o seu novo atelier de pintura e o seu estúdio de fotografia. Aí, foram produzidos Interiores (2009), Outras Faces (2010), Exteriores (2012), Fotografia (2013), onde estão incluídos Parallel Lines, Somewhere, Artistic Composites e Complementary Colors. Seguiu-se Arte Digital (2014), Novas Faces (2015), Cutouts 1 (2016), Faces of Renaissance Madonnas (2017), Moving Figures (2018) e Cutouts 2 (2019 . 2020). Imagens de obras destes temas podem ser vistas em www.pintomeiragallery.com. Foram realizadas várias exposições individuais e colectivas, abarcando os temas acima mencionados.
Catálogo | 32 páginas

Estamos em 2016. Passaram 50 anos desde a realização da sua primeira exposição na cidade de Viana, em 1966. Na sua inauguração, algumas dezenas de guaches e desenhos, alinhados naquelas quatro paredes, e as pessoas que os olhavam, encorajaram o futuro artista a pensar que, aquela pequena exposição, era o início, firme e inabalável, de um caminho no mundo das Artes Plásticas. É aí que ainda se encontra: na Pintura, na Fotografia e na Ilustração. Os “períodos sabáticos”, são avidamente preenchidos com alguns escritos: ensaios, textos, estudos, papers.   
Nesse caminho, foram criados cerca de oitocentos trabalhos em diversas técnicas e diferentes disciplinas, realizadas mais de uma centena de exposições individuais, inúmeras colectivas, algumas bienais, conferências e encontros. Algumas centenas de trabalhos fazem parte de colecções privadas, colecções públicas e institucionais espalhadas por diversos países. 
A passagem dos 50 anos de carreira artística foi o pretexto para a realização de uma Exposição Antológica com cerca de 100 obras, muitas oriundas de diversas colecções e o motivo para a edição do livro bilingue, de capa dura e 500 páginas, com o título Pintomeira Pintura | Fotografia. Foi, também, a razão para a atribuição, pelo Município de Viana do Castelo, da medalha de cidadão de mérito “pelos relevantes serviços prestados às artes plásticas e à cultura vianense”.
Livro capa dura | 500 páginas


No entanto, o baú da sua primeira viagem para Lisboa, em 1967, transporta, ainda, muitos sonhos. Eles são o futuro que ele tera´, ainda, de cumprir.
 
Catálogo | Retrospectiva 2002 . 2020 | 40 páginas    
 
Este seu percurso nunca foi uma monótona linha recta. Nessa estrada, passou por muitos cruzamentos e entroncamentos e a direcção que então foi escolhida, conduziu-o até aqui. Foi assim que Pintomeira sempre quis que fosse. 

Escrito segundo as regras do anterior acordo ortográfico 

Publicado (inglês) em: Academia.edu
https://www.academia.edu/43417810/Road_to_the_art_world

Publicações / Seleção

Het Parool | Recensie Cultuur Supplement | Kunst Expositie, Surrealisme, Galerie Jollijst, Februari 1975, Amsterdam, Netherlands
Metamorphoses | Le Salon 1978, Surrealisme | Catalogue Hommage à René Magritte, Grand Palais,
Paris, France, 1978
Le surréel maniériste | M. de Hartog | Catalogue Expo Galerie Entremonde, Paris, France, 1978
Pintomeira | Livro, Amsterdam, Netherlands 1995 | De Appelbloesem Pers publishing | artworks produced 
between 1972 and 1994
Het Surrealisme van Pintomeira ( Pintorosha), 1978, intervieuw in tijdschrift Rath & Doodeheefver, Amsterdam, Netherlands
Contours 1997 | Donald Meyer, art critic, Amsterdam, Netherlands | Text  Contours ISBN 90 7045 9167
Contours | Contornos | 1998, De Appelbloesem Pers publishing, artbook, Amsterdam, Netherlands,
ISBN 9070459167
Catalogue Pintomeira - Pintura | 1999, Visão Gráfica | Pintoart | Depósito Legal 144276/99
Da Silhueta ao Pintor 2002 | Texto de Alberto Antunes de Abreu, historiador, escritor, ISBN 972-9071-37-3
Pintomeira | Pintura; Catálogo Nova Linha, 2003, depósito legal 205550/04, ISBN 972-9071-37-3
Latitudes | Cahiers Lusophones, | Texto de Egídio Álvaro, crítico de arte, Paris, 2004, ISSN 1285-0756
Catalogue Pintomeira | Pintura, 2006 | retrospectiva 1970-2005 | Textos de Alberto Antunes de Abreu, Donald Meyer, Egídio Álvaro, Arlette Salgado Faria e Luis Chaves, 
http://www.worldcat.org/identities/viaf-284531829/
Da manipulação dos objectos à sua desmaterialização 2006 | Texto de Alberto Antunes de Abreu, historiador, escritor | catálogo retrospectiva 1970 | 2005
Catálogo Interiores 2009 | Pintomeira | Pintura, Enter Impressão Lda |
Exposição Interiores Museu D. Diogo de Sousa, Braga
Interiores | entrevista vídeo sobre o tema Interiores 2009 | localvisão | noticias, pintomeira
A erótica dos objectos 2009 | Texto de Moisés de Lemos Martins, Universidade do Minho, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), Catálogo Interiores
Outras Faces | Pintura | Pintomeira; 2010, Pintart, Catálogo, depósito legal 311065/10,
ISBN 978-989-20-1997-0
O espaço paradoxal da desaparição do sujeito 2010 | Texto de Moisés de Lemos Martins, Universidade do Minho, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), catálogo Outras Faces
ISBN 978-989-20-1997-0
Exteriores | Interiores | Pintomeira; 2011, Pintart, Catálogo, depósito legal 330722/11,
ISBN 978-989-20-2614-5
Exteriores & Interioridades 2011 | Texto de José Luís Ferreira, sociólogo, escritor, investigador de arte | Membro Académico Ind. IAA/AIE –International Association for Aesthetics,| catálogo Exteriores | Interiores ISBN 978-989-20-2614-5
Interiores. Exteriores | FCT Universidade Nova, Lisboa, publicação Design em Lisboa 2011
http://design-em-lisboa.blogspot.com/2011/11/pintoneira.html
ArtWall, International Contemporary Art 2011 Zine, Internet Solutions and Publications,
International Comtemporary Artists; 2012, ICA publishing, New York, USA, ISBN 9786188000728
Prospero International Art Book; 2012, INSAT publishing, copyright 2012 Insat Lda,
ISBN 978-972-97566-6-5
Art Unlimited, MOT publishing, Contemporary Artists. 2014, Londres, UK, ISBN 978-91-89685-28-8
Somewhere | Catálogo Studio Photography | 2014, Pintart, depósito legal 376075/14, ISBN 978-989-20-4820-8
Fotografias como pinturas sobre telas. A declinação da melancolia 2014 | Texto de Moisés de Lemos Martins, Universidade do Minho, Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) | Catálogo Somewhere
ISBN978-989-20-4820-8
Os Cut-outs como metáfora do nosso tempo 2015 | Ramon Villares, História Contemporânea, Universidade de Santiago de Compostela, Presidente do Conselho da Cultura Galega | Publicado em Catálogo Cutouts
ISBN 978-989-20-6470-3, Março 2016
Cutouts | Pintura, 2016, Pintart, Catálogo, Depósito legal 405846, ISBN 978-989-20-6470-3,
Março 2016
Fragmentos de uma viagem 2016 | Álvaro Laborinho Lúcio, Juiz Conselheiro, escritor, 
Os limiares dos encontros 2016, Marzia Bruno, Curadora | História da arte, Estudos Museológicos e Curadoria https://issuu.com/pintomeira/docs/book_500_pag._hardcover_._2016  | pag.115  
Pintomeira | Painting | Photography 2016, Livro capa dura, 500 páginas, edição CM Viana do Castelo,
ISBN 978 972 588 255 9
An Empire of Signs 2017 | https://www.rit.edu/spotlights/o-imperio-de-sinais-empire-signs | Essay by Michael Amy Ph.D. | College of Imaging Arts & Sciences, Rochester Institute of Technology, Rochester, USA
7 Fragmentos em A, 2018 | A figura feminina e a quentura das cores | Arlette Salgado Faria,
ISBN 978-972-588-265-8
Autopsying the moribund art blader 2018, essay by Pintomeira
MoMA issue of World of Art Contemporary Art Magazine | Publishing World Of Art (WOA), 2020 | Londres, UK | ISSN: 1404-3408
ISBN: 9789189685451
  • A Arte no Período Entreguerras 1918-1939 - livro, 306 páginas de Pintomeira,| edição da Lisbon International Press, 2023, Lisboa ISBN 978-989-37-5519-8
  • Um Mundo Capitulado - livro 350 páginas, de Pintomeira | edição da Lisbon International Press, 2024, Lisboa ISBN 978-989-37-7260-7



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