O império de sinais | Pintomeira
Michael
Amy, Ph.D.
Professor de História da Arte | Faculdade de arte e
design
Universidade de Rochester
Rochester Institute
of Technology, USA
Pintomeira tem vindo a produzir obras
artísticas desde 1966, completando este ano meio século de actividade criativa
na área das artes plásticas. Esta carreira, já longa e determinada a durar por
muito mais tempo, não é de maneira alguma uma tarefa fácil no nosso mundo das
artes, cada vez mais inconstante, seja qual for o padrão, e que tritura e deita
fora os seus jovens artistas e também os não tão jovens – fazendo tudo isto com
uma inusitada leviandade.
Alguns artistas começam e continuam ligados a
um estilo e a uma imagética durante muito tempo ou, muitas vezes, durante toda
a sua carreira, como são os casos dos proeminentes pintores abstratos americanos
Agnes Martin e Robert Ryman. Outros artistas navegam de uma variedade de estilos e temas como fazem os virtuosos abstractos e figurativos, Jasper Johns, Gerhard Richter e Sigmar Polke, para citar apenas três mestres extradiordirarimente famosos e influentes.
Pintomeira foi sempre um inovador e agradavelmente
eclético. Ele é um estudioso e, incentivado por uma constante curiosidade, deixa-se
envolver com o velho e com o novo para, no fim, criar uma obra com o seu
próprio cunho e assinatura.
Servindo de introdução, é importante fazer um
breve resumo da carreira deste artista. Nascido na aldeia de Deocriste, em
Viana do Castelo, Portugal, os talentos artísticos de Pintomeira foram, muito
cedo, reconhecidos por alguns, incluindo a sua professora da instrução primária
com o nome mágico de Belizanda, que o encorajou e só a ele, a desenhar no
quadro preto da escola. O seu pai, contudo, tinha outros planos em mente para o
seu filho que foi encaminhado, ainda criança, para o Seminário com a finalidade
de seguir o sacerdócio. Alguns anos mais tarde e sem obter a permissão parental
para o fazer, o futuro artista abandonou o Seminário e, no seu regresso a casa,
foi acometido por uma verdadeira sensação de liberdade, nunca antes experienciada.
O Liceu, com as suas crescentes aflições, veio
a seguir. Terminados os estudos secundários, o seu pai, querendo enviar o seu
filho rebelde para a Faculdade de Arquitectura, talvez pensando que, uma vez
que ele não quis seguir os ensinamentos cristãos para se formar sacerdote,
poderia, agora, como arquitecto, edificar igrejas para os albergar.
O futuro artista, contudo, não querendo perder
tanto tempo com os estudos e não se imaginando confortável na pele de um
arquitecto, desobedeceu à autoridade parental uma vez mais, antevendo, em vez
disso, uma carreira como realizador de cinema ou de artista plástico. Não sendo
possível a primeira, por motivos financeiros, Pintomeira tomou em mãos o seu
desígnio maior de se tornar um artista e assumir o seu lugar nos holofotes.
Após a sua primeira exposição que provou ser um
sucesso, em 1966, Pintomeira embarcou no comboio para Lisboa, encontrando-se pela
segunda vez numa viagem onde experienciou sensações de liberdade sem limites.
Para ele, vindo de um ambiente rural, Lisboa era a capital das luzes, e o locus da vida moderna. Mal chegado à
capital, encontrou um emprego, que abandonou seis meses mais tarde, não
querendo conformar-se com as rígidas regras impostas pela sociedade. O livro On the Road de Kerouac transformou-se,
para ele, numa influente narrativa de como viver a estrada da era pós nuclear.
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EXTERIORS | acrylic on canvas | 140x160x4cm | 2012 |
Após uma tentativa falhada para deixar o seu
país e partir para Londres ou Paris, a fim de estudar cinema, antes de cumprir o
serviço militar obrigatório, Pintomeira costumava encontrar-se, no Café
Brasileira, com alguns artistas do movimento surrealista português. O papel
importante que as tertúlias e a cultura de café tiveram na evolução da arte
moderna e no desenvolvimento de movimentos vanguardistas na Europa, nunca deve
ser subestimado.
Acompanhado por alguns dos seus amigos, o
artista vivenciou aventuras pela estrada fora, sendo mais tarde detido pela
polícia política portuguesa (PIDE) por suspeitas de envolvimento em actividades
subversivas contra o regime ditatorial, suspeitas essas originadas em
comportamentos de contracultura que, muitos jovens da sua geração, noutras
partes do mundo, também tinham abraçado. Sendo libertado, após repetidos
interrogatórios, e por falta de provas, e sendo considerado irrelevante o facto
de trazer consigo livros de Sartre e Camus, e de ter no seu blusão de ganga inscrições
de apelo à paz como Make Love Not War,
Pintomeira foi obrigado a cumprir o serviço militar, sendo enviado para uma das
colónias portuguesas em Africa, no year
of living dangerously de 1968, em tempo de guerra. A Guiné acabou por ser
um Inferno para o jovem, que
rejeitava actos de colonialismo, de exploração e de agressão.
Ano e meio depois, uma vez libertado das suas
obrigações militares, Pintomeira regressou a Lisboa, naquele momento, uma
cidade equivalente, nos seus pensamentos, a um dia no Eden moderno, depois de ter
passado mais do que Une Saison en Enfer
do poeta simbolista Arthur Rimbaud, que era um favorito pessoal do artista.
Pintomeira ligou-se aos surrealistas em Lisboa,
grupo que inspirou a sua expressão artística que ele iria desenvolver durante
os anos de 1970. Assim como aconteceu com os Dadaístas e seguidamente com os Surrealistas,
que reagiram às atrocidades da 1ª Guerra Mundial, o idealismo nos anos de 1970
era o de que, se o progresso conduz à tragédia que acabou por desencadear o
despertar da 2ª Guerra Mundial, então Pintomeira e os seus colegas artistas
deveriam abraçar o irracional, o mundo dos sonhos e do subconsciente. O Surrealismo transmitia poder. Cumpria a
promessa da imaginação sem fronteiras triunfando sobre a monótona e
desinspirada realidade conformista.
Agora a liberdade chegou sob a forma de uma
jovem holandesa chamada Marijke, que levou o artista, primeiro para Paris e
depois para Amesterdão, onde ele iria ficar durante cerca de trinta anos.
Depois do seu trabalho ter sido exibido em
algumas exposições em Paris, nos fins dos anos 70, Pintomeira abandonou
manifestamente a sua ligação ao surrealismo, onde esteve entre 1970-1978, e
enveredou pelo desenvolvimento das séries Paisagem
(1982-1987) e Contornos (1990-1999). Entretanto, envolveu-se também na escrita
(o que testemunha as suas publicações de High
Noon in the Hot Summer, de 1981, e as Cartas
Condenadas, de 1984) tendo acontecido o mesmo com os artistas surrealista
da primeira vaga (Max Ernest, René Magritte e Salvador Dali), e de alguns
artistas ligados ao grupo COBRA do pós guerra, movimento que Pintomeira frequentou,
durante algum tempo, enquanto viveu em Amesterdão.
O contacto de Pintomeira com a arte e as ideias
do grupo COBRA levou-o ao desenvolvimento da sua série Nova Linha (1999-2007). A sua arena de experiências, interacções e
acções continuaram a expandir, desde que ele deixou a sua aldeia cujo nome nos
leva a pensar como se fosse dedicada a Deus (Deo) e a seu Filho (Christe), Deocriste.
Em 1999, Pintomeira voltou para a bela
aldeia da sua infância e para a casa dos seus pais a quem muitas vezes e
produtivamente ele desobedeceu, uma casa com a pequena capela, na qual os seus progenitores
esperavam, um dia, vê-lo a celebrar missa e na qual ele casou pela sua segunda
vez, em 2007.
De regresso a Portugal, o artista
prosseguiu o seu trabalho da série Nova
Linha (1999-2007), que abriu caminho para a série Faces (2003-2010).
Na cidade de Braga, onde construiu o
seu novo atelier e studio de fotografia, Pintomeira desenvolveu a série Interiores (2008-2011), as Outras Faces (2010), os Exteriores (2011-2012) as séries de
fotografia Somewhere (2013-2014), juntamente
com a Arte Digital (2009-2016), os Cutouts
(2015-2016) e as Novas Faces (2016), passando
do desenho para a pintura, para a fotografia, para a colagem, para as
cerâmicas, e de volta a outras séries, conforme os seus criativos impulsos o
conduzissem.
Este artista sempre inconformado, recusou
sempre o estado de inactividade. Mudando de velocidades no seu modus operandi, Pintomeira simplesmente
acumulou experiência em Lisboa, Guiné, Paris e Amesterdão. Ele precisa de
processar uma vida cheia de ideias e sensações acumuladas. As suas metodologias
criativas dão-lhe capacidades para o fazer, através da sua arte, enquanto continua
a sua impressiva obra temática.
Neste ensaio, gostaria de me concentrar
em duas séries da sua pintura que, por serem muito recentes, ainda não receberam
a atenção devida. As pinturas que fazem parte da série Exteriores (2011-2012) fascinam-me, com a sua acumulação de sinais,
as suas sugestões de um espaço tridimensional que é contraditado por outros
motivos que enfatizam o plano, e a sua justaposição de figuras e níveis de
abstracção. Observemos a pintura de 2011 mostrando um homem no primeiro plano,
voltado de perfil para a direita, atravessando uma passadeira de peões e
prestes a sair da pintura, uma vez que a ponta do sapato do seu pé direito
dista somente alguns centímetros do limite direito do quadro.
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EXTERIORS | acrylic on canvas | 100x90x4cm | 2012 | Private Collection |
O homem, talvez de meia idade, vestido
para o trabalho, uma vez que transporta uma pasta segurada pela sua mão
direita. De chapéu, o homem preenche quase toda a altura do lado direito da
pintura. Contudo, ele é-nos apresentado como uma uniforme silhueta preta, que
aparece enfaticamente lisa, tão lisa como as listras brancas da passadeira, e
tão lisa como os metálicos sinais rodoviários do plano central, dizendo-nos
onde é proibido estar parado, e ordenando-nos a reduzir a velocidade para 30
quilómetros hora.
O uso das silhuetas pretas e enfaticamente
planas pode levar-nos à obra La feuille
de vinhe (óleo sobre tela, 1922, Tate Modern, Londres) de Francis Picabia,
a Dresseur d’animaux (tinta Ripolin
sobre tela,1923, Centre George Pompidou, Paris), e La nuit espagnole (esmalte sobre tela, 1922, Museum Ludwig,
Colónia). O último quadro inclui dois alvos, que são mais ou menos análogos aos
sinais de tráfego em forma de disco como na pintura de Pintomeira. As silhuetas
pretas nos três Picabias tem precedentes no corte de silhuetas de papel produzidos
pelos artesãos e amadores antes do século XX (e revisitados com sucesso pela
artista americana Kara Walker nos fins do século XX, e ainda brilhantemente
minada por ela, como acontece com estes escritos.
As características formais de papeis
cortados foram introduzidos nas práticas vanguardistas por George Braque, nos
seus papier collés (papeis colados), e
que ajudaram Picasso e ele próprio a desenvolver a pintura do Cubismo Sintético
(que apareceu no despertar do Cubismo Analítico), e que influenciou
profundamente as séries Exteriores e
Interiores de Pintomeira.
Mas voltemos ao quadro acima mencionado
de 2011. A parte superior da pasta do homem é trabalhada em perspectiva, sendo dada
à sua pega uma certa fisicalidade. Isso faz com que projetemos um maior volume no
próprio homem, começando talvez nos seus sapatos, um dos quais está quase
completamente levantado do chão e lança uma sombra aparentemente vaporosa numa
das listras da passadeira. As três listras beges da passadeira no primeiro
plano até ao plano central, e praticamente no ângulo direito do fundo, quase
como uma prancha de mergulho sobre a piscina, ou como a prancha que se estende
para além da parte lateral do navio onde os piratas obrigavam os seus
prisioneiros a descer, até caírem dentro do mar ou oceano, afogando-se e sendo
devorados pelos tubarões, isto é o que Hollywood nos mostra.
O asfalto sobre o qual estão pintadas as
listras das passadeiras constituem mais do que uma longa faixa horizontal, sendo
a sua superfície de cor cinza executada sem interrupção até ao topo do quadro e
nos dois terços da parte superior da pintura em toda a sua largura. Por outras
palavras, ele também se converte numa planura, e está lá como se fosse o céu ou
as paredes a primeira leitura ajuda a justificar a prancha de mergulho, analogia
de um navio de piratas.
As listras da passadeira, subindo em
perspectiva e atingindo o plano central, enfatizam conceptualmente o horizontal,
enquanto os sinais da estrada acima mencionados, colocados paralelamente ao
plano de imagens enfatizam o vertical. No entanto, a ambiguidade adicional é
introduzida por uma longa seta branca igual aquela que é pintada no asfalto
para nos informar que nos encontramos numa faixa em que os veículos tem que virar
ou à direita ou esquerda sobre um dos sinais metálicos de trânsito.
No entanto, aqueles sinais de trânsito
não são de metal. Eles são construídos de tinta. E, obviamente, não há aqui nenhum
asfalto. Em vez disso, há simplesmente uma pintura sobre tela. Adicionalmente,
não há nenhum homem que caminha em perfil para a direita. No seu lugar, há
apenas um material de pintura oleoso que pintou esta superfície imaginada. Encontramo-nos,
aqui, num império de sinais.
Os sinais são importantes, é verdade.
Podemos comunicar intenções através deles e somos quase perpetuamente confrontados
com eles e pelas suas interpretações.
Ao longo dos anos, aprendemos a compreender
a maioria dos sinais à nossa volta, mas as dificuldades abundam, erros ocorrem,
e acidentes acontecem. Quando não os vemos ou os interpretamos mal poderemos ir
parar a um hospital ou pior ainda, acabar na morgue. Pintomeira lembra-nos que
a pintura é uma linguagem, sujeita a um conjunto de interpretações
potencialmente corretas ou incorretas.
Noutra foto da série Exteriors, vemos duas mulheres a
atravessar uma rua numa passadeira de peões, com os seus corpos colocados quase
em primeiro plano, e dramaticamente cortados acima dos seus ombros pelo limite
superior do quadro. A mulher da esquerda usa meias amarelas escuras e a outra
do lado direito usa meias de cor violeta. Estas senhoras vestem de preto, é o que podemos dizer, já que as suas cabeças
e os seus ombros encontram-se fora dos limites da pintura usando uma um vestido
e a outra uma saia, cobrindo praticamente os seus joelhos. Ambas usam sapatos
pretos de salto alto.
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EXTERIORS | acrylic on canvas | 165x185x4cm | 2012 |
No caso de uma pintura analisada
anteriormente, aqui o assunto é também sobre o caminhar, o passear como acontece
nas cidades com a sua multiplicidade de sinais e indicações. Aqui também, há
movimento e imobilidade e, neste último, estão implícitos os estáticos sinais
rodoviários no plano central, avisando-nos para mudar de sentido e reduzir a
velocidade, o que está na maior parte das vezes pintado em formas cinzentas
sobre fundo cinza escuro. Uma vez mais, vectores horizontais e verticais
fundem-se com o chão que as mulheres atravessam e que está alinhado com os seus
corpos lisos e de perfil.
A mulher à esquerda com as meias
amarelas leva à trela um cão de tamanho médio, um cão preto, igualmente plano
como a superfície da sua roupa preta. O motivo do cão preto levado pela trela
da mulher, dramaticamente cortada, usando um vestido preto, pode ser
relacionado com a sobejamente conhecida pintura, Dinamismo de um cão à trela (óleo sobre tela, 1912, Albert-Knox Art
Gallery, Bufalo) do futurista italiano Giacomo Balla. Comparada com este
quadro, a pintura de Pintomeira parece calma, imponente e requintadamente equilibrada.
A sua gama de cinzentos, por outro lado, lembra-nos os cinzas no trabalho de
Jasper Johns, cuja obra também nos vem à mente quando vemos o padrão de
círculos finos subindo desde o fundo central até ao canto superior esquerdo, o
sinal em forma de disco (referindo a pintura de Jasper Johns), as setas, os
números e os sinais de rua drenados nas suas cores. Johns pintou um alvo verde,
muito conhecido, rodeado por terra verde, um quadro mostrando uma bandeira
branca dos U.S. ocupando totalmente a área da tela. A introdução da superfície
feita de sinais na pintura moderna é atribuída a Braque e Picasso, e
prosseguida pouco tempo depois, no emblemático abstracto Retrato de um Oficial Alemão de 1944 (Metropolitan Museum of Modern
Art, New York), com origens do Cubismo Sintético, em cuja pintura podemos ver
motivos em forma de disco e números. Pintomeira, um artista figurativo, tem um
maravilhoso sentido para a natureza abstracta das aparências.
Os Interiores
(2008-2011) de Pintomeira misturam o pós-cubista Fernand Léger com a britânica
e a americana Pop. Um dos mais impressionantes Interiores (2009), na minha opinião, é o que apresenta uma mulher
sentada a uma mesa azul, lisa, em primeiro plano e em perfil, voltada para a
direita, como se ela estivesse a entabular uma conversação com alguém, embora a
cadeira do outro lado se encontre vazia.
A mão esquerda da jovem mulher está levantada e
encostada ao seu queixo e à sua face, numa atitude de pensamento. Uma bolha de
pensamento, próxima e desenhada com traços, aparece um pouco elevada próxima do
centro da pintura, que está vazia recusando, por esse modo, compartilhar o que
a jovem mulher está a pensar ou a sentir; ou, estará ela a pensar ou a sentir alguma
coisa? O cinzento do papel de parede com
linhas verticais oferece um leve contraste com o cinzento escuro da carpet em
baixo e que fica distanciada da parede por um bege rodapé. Pintomeira trabalha
melhor, segundo minha opinião, quando ele introduz a austeridade clássica. Esta
é outra composição elegantemente equilibrada envolvendo níveis de realidade.
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INTERIORS | acrylic on canvas | 140x160x4cm | 2011 | Private Collection | |
Noutro Interior de 2009, que namora com a publicidade e o design, uma
mulher jovem está, uma vez mais, sentada e sozinha. Aqui, a cor dominante é o
vermelho, com a jovem sentada atrás de uma grande mesa situada em primeiro
plano, em frente a uma parede coberta de papel vermelho com linhas verticais e,
um pouco afastados do espectador, dois grandes livros vermelhos colocados sobre
a mesa, um em cima do outro. A mulher, aqui representada a partir do seu busto
com as suas mãos levantadas até à sua face, encontra-se perdida nos seus
pensamentos. Uma janela, com vidraças vermelhas e opacas, e com caixilhos
brancos está colocada atrás dela. Comparando com a pintura analisada
anteriormente, aqui também um candeeiro de sala interpreta um papel importante,
talvez, quem sabe, substituindo a pessoa que está ausente, e que provavelmente
ocupa os pensamentos da jovem mulher.
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INTERIORS | acrylic on canvas | 160x140x4cm | 2011 |
Duas formas fechadas construídas de
traços aparecem atrás do candeeiro e em frente do papel de parede, introduzindo
uma nota de mistério dentro de um contexto de normalidade. A silhueta
curvilínea da mulher entra em contraste com a janela rectilínea, e o rectangulo
de uma das vidraças vermelhas é reflectido em terceira dimensão pelo que
poderia ser um vermelho vaso rectangular colocado sobre a mesa, sem flores, da
mesma maneira que as janelas não oferecem alguma vista, e assim como eu pensei,
as bolhas de pensamento estão vazias. Esta também é uma pintura sobre a
melancolia, uma representação de um tema secular da pensativa Maria Madalena?
Fazendo cinquenta anos de carreira artística, Pintomeira
continua a deliciar-nos, arrancando novas ideias do seu alforje preenchido com as
suas próprias visões idiossincráticas sobre a arte e sobre a vida. Pintomeira faz
parte de uma linha de notáveis artistas camaleões, que mudam em função das
situações e que continuam em constante movimento.
Esta tradução para português não segue o novo acordo ortográfico.
Michael Amy, Ph.D.
Professor do
Colégio d’Historia de Arte
Imagens de arte
& ciências
Rochester Instituto de Tecnologia, USA
ver original inglês em: Press
pintomeiragallery.com